Há taças que pedem silêncio
Tais taças são fundas – profundas
O brinde que se faz com elas é insuficiente
Requer conteúdos
cheiros
cores
motivos
As gotas que de lá gotejam são desperdícios - suicídios
Há tantas taças
Todas incertas - por serem muitas
Todas quietas - por serem vivas
Elas lembram reinos e banquetes
Mas também goles de amargura
O que está sentado em seus banquetes são intraduzíveis necessidades
Muitos sentam-se agora em banquetes infinitos, mas não saciam fomes e sedes mais infinitas ainda
Há taças que não contém o que a alma bebe
Há taças que falam por si
Outras que só querem ser ouvidas
O dia-taça também é assim
Pedindo silêncios, falas, cheiros, cores, brindes, motivos
Lancei ao ar o dia como uma taça
Desejei brindar o mais simples do instante
Ao ar
Só não faltaram motivos para desistir do brinde
Ao ar
Só um céu inabalável confrontando minha frágil mão - erguida
E foi assim
Deslocando os olhos da taça
Entreolhando a muralha azul do céu
Olhando assim
A taça parecia um prenúncio
Um grito de combate
Um desmontar os muros dos meus limites!
Se puder:
Erga a alma,
Antes das taças
O que há em ti
é mais fundo
Do que o Universo inteiro
A taça humana não contém fim
A taça humana é este intraduzível
sem-fim...
sem-fim...
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