sábado, 23 de fevereiro de 2013

Da (ex)istência da alma..

Ela tinha a palavra inquebrável
Tudo que dizia era atestado
Jamais desconfiei ou desconfiaria

Mas aquele dia
O que ouvi dela
Me fez titubear 

Ela afirmava:
"Eu peguei na minha alma!"

Parecia um apelo
Um relato de sonho, mas, nao!
Ela dizia isso de forma tão exasperada e certa, suava por todos os poros

Para entender toda aquela empolgação a perguntei:
"qual a forma?! O que mais sentiu?! Será mesmo eterna?! Será que todos os humanos a tem?!"

Ela nao queria muito detalhar, mas minha insistência a foi vencendo...

" E começou...
Eu estava quieta olhando um jardim
Só pensando sobre aquela gota de água e o jorrar de luz daquele sol sobre ela
A gota de água
O sol
Apenas isso
Só admirando um belo jardim

Senti como se minha alma se quebrasse
Como que um braço,
Mas a cisão foi tão grande
Que a senti distinta de mim
Eu
Em outro espaço

A alma se deslocara 

Que loucura!, era só isso que eu pensava...

Vê-la daquele jeito
Partindo
Partida
Nunca tinha experimentado aquela sensação
Foi uma experiência incrível
Mas, também, bem estranha

Tinha apelidos
Tinha gritos
Ela tinha tantos barulhos

Ouvi uma voz
Que repetia a todo instante:
  "Coloque seu ouvido sobre ela..."

"Quantas vezes coloquei o ouvido em conchas 
Para ouvir um barulho de vento, de mar...
Mas colocar o ouvido assim
Na minha alma deslocada de mim?!

Fiquei com medo mesmo...".

O que fizemos de nós? !
Corremos tanto que nos desfizemos:
desconhecidos ..
Somos donos de uma alma pouco nossa
Cada dia quebrada
Quase pedindo para sair
Quase gritando:

"Pare aí! Me ouça!"


Não sei,
Mas aquela história estava inquietando tanta coisa em mim

A pedi:
"Conte-me mais...! Qual o peso de perceber o que estava sufocado, esquecido: um desconhecido teu - desalmado"

Ela chorou
E orou
E chorou

Misturava tanto pranto com algumas palavras...

Mas ela foi forte
Queria me contar tudo
Ela sabia que todos os seres humanos tem esse sentido próximo: a alma.
Por isso me contava com tanta emoção...

"Eu ouvi de dias que não se foram.
Nem iam nem vinham.
Ficavam apenas transitando num espaço que nao sei dizer...

Quando ouvia risos aos montes
Aqueles espaços eram ouvidos de forma mais suave

Quando os dias eram de choro
Eu quase ficava surda!
Aqueles desalmados co-habitantes da alma - eram sentidos vinham aos berros atropelar tudo..".

Ela então ouve outra voz:
"Toca! Abraça!"

Ela, impressionada, entorpecida, ousa, teme, tremula...



"Abraçar aquela alma cheia de nós?!
Mas aquela era eu!
Por que o medo?!
Medo de ruir?!
Mas já estava diante de si...
Nao dava mais para escapulir..


Comecei a tocar naquela visão
Quanto mais tocava ela ia se tornando mais clara, luminosa!"

Uma pausa:
A necessidade que temos de sermos ouvidos, abraçados: deve ser essa vontade de receber luz - divina luz do calor de um ouvido, olhar e toque sinceros... Antes de termos luz para ou outros devemos nos alumiar...

"Parecia meio dia!
A visão quase me cega!
Quando a abracei já nao via mais nada! Fui abraçá-la seguindo apenas a direção das vozes que se silenciavam..."

(choro copioso)

"Naquele meu abraço estava todo o sentido...
E nele sumiu a alma informe - distinta
Parece ter voltado ao seu ninho barulhento - enovelado..."

Chorando, eu também a abracei
Quis ver se a alma ainda lá estava
Sabia que aquela experiência tinha razões indizíveis
Que aquela visão tinha lições incomunicáveis
Por isso escolhemos um longo silêncio - de um longo abraço 

"Todas as perguntas que fizeste sobre a alma. Só te digo uma: ela (ex)iste. Mas ela quer mais que isso, ela quer ser ouvida... Ela precisa que paremos de correr de nós. Estamos nos separando dela quanto mais fugimos de olharmos no espelho dos nossos olhos para vermos quem temos sido..."

Sabe,
Nao importava mais se aquela história tinha sido real ou se tinha sido um sonho, para mim aquela visão era real...

Saí daquela conversa olhando mais para mim
Tentando rabiscar um pouco o que sentia
Levando a mão aos olhos para colher ainda algumas lágrimas
Aquela alma, do lado de fora

Queria tudo:
Menos um alguém (des)almado..
Quem lê entenda...



segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O que há quando nada mais há...


Há um tipo de dor agressiva
Que faz doer se tentada
Que faz ferir se falada
Que faz do todo um vazio  - esvaziante

Há um tipo de dor calada
Que tem silêncios de quem busca definições
Que tem o dedo de quem quer intuições
Que quer caminhos - ainda que entre vulcões

Há um tipo de dor universal
Que assovia quando não consegue fazer a alma cantar
Que, com pouca luz nas ruas e calçadas,
Ousa outras es(caladas) - e cansa de tanto  - e cada vez mais - replicar

Dias de um desejo inerte
de ter do devir os mapas,
Mesmo quando, de tanto ir, já nem saiba mais para onde - mapa circular, de roda-gigante
O que viu no auge
Já esqueceu na descida
E enjoa desse círculo-andar

Há um umbigo mundial que nos alimenta,
mas nos prende...
que nos faz preparados,
mas silentes...
que nos manda alimentar,
e cobra oxigênio
Mesmo de quem já desa(prendeu) a querer respirar

Há um tipo de grito que não aprendi a compor
Que não aprendi a pintar
Uma lágrima que cai e queria sustentar
Uma mão que se solta e eu queria juntar

Há tanto sinal de que no nada há...

Luz e pouca luz  - há e não há
encastelando momentos
a(guardando) do dia e do tempo
Um clic -
um salto
em segredo mágico - secreto.

Na aurora,
ouvi falar,
como que num conto:
Nasceria o Sol como lembrete
De que a noite passa como um flerte
E leva o dia no mesmo blefe

Ouvi do crepúsculo um mesmo dito, que flui como que num rito:
Tu és filho do tempo -
ouriço

Em teus calendários-espinhos
deves ter alma de quem caça,
Pois quando não tiver mais calma,
Deverás apenas A(guardar)

..

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Poesia livre, libertadora...



Acabo de ver matéria jornalística em que o professor, lecionando no interior de Ocara/CE, já no oitavo ano do primeiro grau, teve uma sala inteira de alunos que simplesmente não sabiam ler.
Ante este espanto, resolveu revirar o ensino.

Saiam os livros, venham as produções dos próprios alunos!

Os farei aprender a partir da criação.
Os desafios eram estes: criem poemas! Sejam escritos ou falados, eles serão as nossas pautas!
E não é que deu certo?!
Com isto, aquela turma inteira fugiu na educação formal e ôca e sedimentou uma sede profunda pela leitura de livros de literatura e poesia.
(Caso não tenha visto a matéria, eis aqui o sítio: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1168218)




Só a poesia faz isso!
Ela ensina a arte de ser-um-outro.
De sonhar para além daqui..

Chamaria isto o sonhar possível dos impossíveis: esse criar.
Só aqueles que são capazes de poesias... Veem o impossível-possível


Na poesia o crente cria a descrença e cria a crença, na hora que quiser.
Na poesia o perdido constrói castelos, erige pontes, encontra e desencontra, renasce. Logo ele que é desencontro!
Na poesia o calar toma voz, a voz toma a tinta e faz dela refém.
Na poesia o amor ganha cor de choro e riso - limbo e desalinho
Na poesia, só nela!
Ah, poesia, em ti encontrei o que não vi em outro lugar: 
O lado belo do humano: o elo do ser, humano...




terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Por uma teologia dialética...

Por vezes ouço pessoas perguntando: Onde estão os pregadores, onde estão os profetas de outrora, onde estão os dias dourados?!

O que me parece é que aqueles que assim saudosamente respiram não viram que, nas entrelinhas, em todos os tempos, sempre guardaram momentos de CRISE

A crise dos nossos dias não veio pela falta de PESSOAS a tagarelar, mas pelo que tagarelam

Sim!
Pregadores sem mensagem!
Não porque não preguem e muito (A TV aberta brasileira que o diga! Meu Deus e soube de uma "igreja" que comprará mais dois canais!kkkk)
Mas porque o seu discurso perdeu o azo, o compasso - quedou silente




E eu aqui
o que venho sonhando!?

Eu tenho olhado para os varais das pregações e apenas encontrado pregadores - mas que nada conseguem comunicar


Eu venho sonhando muito
Mesmo trabalhando intensamente nos últimos dias com uma dissertação inteira para terminar
Eu venho tendo sonhos
E isso não me foge à mente!

Eis meu sonho, dentre outros:
Uma Teologia Dialética!

Uma teologia do despertar
Uma teologia do ouvir, mas do que do falar
Uma teologia que saiba separar: O Deus que preexiste aos nossos conceitos; do Deus que conceituamos.

Um Deus ABSOLUTO, mas uma teologia não absoluta

Vivemos, não apenas em teologia, mas em todas as ciências humanas, o paradigma do objeto: O que é a Verdade em termos de conhecimento?!

De Aristoteles vem o esforço de querer clarear o que é dizer o que algo realmente é ou nao é, mas perceba como é emaranhado:

"dizer daquilo que é, que é, e daquilo que nao é, que nao é, é verdadeiro;
dizer daquilo que nao é, que é, e daquilo que é, que nao é, é falso!"(alud MARINONI, 2010, p.254).

Mas como saberemos o que é, na verdade!? E o que não é?!
Difícil não, é?!?
Rsrsrsrsrsr

Para isso venho aqui discorrer que aprendamos a lecionar as nossas teses como pontos iniciais de novas e possíveis antíteses, e, num espiral dialético interminável, em futuras teses a serem vencidas, ou não...

Devemos a Hegel a teoria: tese- antítese- síntese.

"A dialética verdadeira e correta afirma que cada parte é apenas parte, ou seja, que tanto tese como antítese são falsas porque parciais."(Cirne-Lima, 2011, p.37).

O que tem a ver isto com a teologia moderna?!

Até o momento nada, mas quero promover aqui uma Necessária reutilização do uso das teses em matéria de Deus.

O que me parece é que ao descrevermos o Absoluto tendemos a querer subsumir narrativas também cheias de vetor unidimensional aos ventos fluidos dos tempos...
Quando a subsunção falha dizemos: incrédulo! Duvidando da peça de encaixe!
Mas a verdade é que a Vida é Quebra-cabeça que nunca tem fim...
E exige novas peças de encaixe
Que não são todas entregues
Devem estar mesmo ao devir...

Teologia ao Devir...
Isto porque um vetor que só aponta para um único caminho pode levar para uma eterna perda de tempo, e, pior, para um caminho distante e sem volta! (E não queira aqui, por ter lido, O caminho, linkar com o texto joanino de 14:6). 

Nao confunda texto escrito com a Vida de Deus que metaforizou palavras narrativas: o caminho, a porta, bom pastor, princípio e fim, etc.

Quando falo de uma teologia que consiga ser dialética, quero apontar para uma teologia que consiga estudar mais as suas teses, pô-las em xeque se necessário,

E, por favor, não vá disfarçando seu medo de não conseguir ter todas as peças explicativas para vida, com o seu DEUS, lembre: AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS E AO PRÓXIMO COMO A NÓS MESMOS nos leva a abandonar nossas narrativas...!

Entenda!

Precisamos de vinho novo, pano novo...
Estamos cheios de remendos velhos, em panos velhos:

E, (JESUS), disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de uma roupa nova para a coser em roupa velha, pois romperá a nova e o remendo não condiz com a velha.
E ninguém deita vinho novo em odres velhos; de outra sorte o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão;
Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão.
E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho. 
Lucas 5:36-39

A história e o tempo pedem novos pensadores e novos pensamentos que queiram expor-se até ao absurdo,
Mas que tenham coragem de discorrer novas histórias...

Aqui no Ceará se faz, de panos velhos, fuxicos, e com eles outras peças,
Mas todos sabem distinguir quais panos servem aos fuxicos e quais panos servem para confecção de uma bela roupa nova... 

A teologia tradicional corre sérios riscos com o engessamento de sua narrativas, pretendendo ser tão verdadeira quanto o próprio Deus

Mas , lembrem-se:
"Não sabemos falar"(Êx4:10 - Moisés)
A língua escrita e falada, são maneiras, instrumentos, de nos apegarmos a algumas formas para desenharmos outras possibilidades e significados

Assumir-mos a banalidade de nossas narrativas sobre a verdade
Não é dizer que a verdade não existe
É assumir posição humilde de pôr sua verdade à prova do tempo: se for de DEUS ela subsistirá, senão, os tempos outros a derrubarão...

O certo é que tudo que há debaixo do sol é vaidade:

E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito. 
Eclesiastes 1:13-14

Pensei que a bíblia não sofresse desse mal... Mas a culpa não é do texto, nunca foi, desde o decálogo, a culpa é do leitor e seu contexto enrijecido 

A culpa é dos tempos
Que urgem para serem outros...
A culpa é dos outros
que teimam em ser os mesmos!

Dúvidas e afirmações: um retalho de signos a se descosturar

?
!

Entre a pergunta e a certeza há mesmo uma curva?!

Sim, 
Porque quem teve a idéia de criar o grifo para pergunta com a interrogação curvada só pode imprimir o que realmente sentimos ao duvidar

Parece que queremos dobrar à próxima curva ou calçada, sempre calçados, em nada atropelar

Queremos a certeza das retas
As afirmações calcanhares nos deixam mais quietos


Mas vem a vida nos impressionar

O que tiramos das curvas e retas

Tome hoje cada dúvida e questão
Fuja de afamado ponto de exatidão
Corra em caminhos que permitam a dobra - a (re)FLEXÃO

E de lá sussurre o que viu...
Fale baixinho
Pode ser que alguém perceba a curva do teu discurso e queira te aplainar na marra

É bem isso que digo
Cada um fará para si seu retalho de idéias 
Cada um destes retalhos a se descosturar

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Partir: a partir daqui...



Do dia em que o velho susto pareceu novo...


Saberia dizer o ocorrido, mas não conseguira dizer como
Simplesmente desconheço o que TRANSFORMA pessoas em maquetes de um inferno prestes a ser financiado pelo capim que comem..
Sim, 
Não me acho nem me perco entre aqueles que já não se consideram aprendizes, iniciantes, ignorantes de tantos mares profundos,
Mas, e simplesmente isso, devo admitir, que a discussão trilhada com quem simplesmente desconhece os mínimos espaços da educação e da ciência que o mesmo Deus os deixou tocar, é bobagem de quem ainda não aprendeu a disfarçar
Queria aqui, nem que por breve espaço de tempo, dar um DELETE no que li. Bem mais do que li aqui, mas do que venho lendo.
Os arbítrios de intérpretes Hermes do bom e puro texto e suas pedras-pregações 
Nao sei o que dói mais, nem o que doeu
Só sei que me avizinho mais de uma escalada que não pode ter volta
(Subir é admitir sempre que está precisando de progresso)
Essa escalada nem nome tem
Nem terá discursos para ouvidos dos feitores de discursos ôcos

Ar! 
Quero respirar ar
Ainda que rarefeito
Ainda que raro e feio
Ainda que difícil
Ainda que só
Ainda


Perde-se, ou perdeu-se,
Conjugue na fórmula que lhe aprouver,
O senso do temor.
Temor para nao dizer bom senso.
Pisam em nossa grama e dizem:
É com amor que o faço, e que Deus te abençoe - fique calado!

Nem sei como existem,
Mas sempre existiram..
Traças de roupas velhas,
Remendo velho em vida , que exige o novo..

E se existem 
E nao param de se multiplicar
quero espaço para dividir o meu jardim
Sem os caciques da fé
Sem os intérpretes frios que cozinham nos ventos grís de seus vazios argumentos

Quero algo que esteja absolutamente distante
E digo isso de novo: quero subir a montanha

De lá ouvir um sermão novo

Quiçá me venha do meu Amado Senhor
Que foi perseguido, acusado e crucificado nao por publicanos e pecadores ( estes foram seus amigos), mas pelos donos da "ratio Dei" 

Nem por um momento quero o relativismo ganhando cor em minhas veias,
Mas o Absoluto parece permitir coexistências...

Coexistir:
Ter no prato mais do que fome
Ter o elo do que nada come

Existir:
Ter na montanha mais que a subida
Ter o deslumbramento da fita
Que restará
No fim
E no inicio

E nessa escalada que chamamos vida
Devemos à vida
A Vida
e isso
A partir daqui...