terça-feira, 28 de outubro de 2014

Era a palavra que perdi...


O que aqui escreveria perdeu-se -
Qual gota..
...
..
.
Despencou num desfiladeiro de uma única frase:
“Uma das grandes soluções de escrever é que você pode criar sua identidade através das palavras!”Botton – Vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=tpiaCg8GJH8


Fiquei rodopiando aqui
Parecia que o que escrevia era para amigos e amigas em situações reais – extremas – contos de fazer um fio de esperança brotar nos cimentados dias que vivemos
Um crepúsculo convocando o “pássaro de Minerva”(HEGEL)....

Mas eram apenas: palavras?!

Minha música em versos alheios: 

"Palavras Não Falam

Mariana Aydar

"Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras
Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras




quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"A PALAVRA": Como ela fala?




Sentada em sua sala de estar
caíam seus braços sobre um ombro cansado - 
era o sinal de que queria um  outro estado, outro recanto, outro canto - 
e nada lhe era outro - 
tudo que tinha era ela mesma e seus ombros - 
cansados ombros...

Começou a ler a obra mais recente de Milan Kundera: "A Festa da insignificância"...

Era uma pressa tamanha

Já lera outras obras do mesmo autor e, em cada linha, percorria tentando angariar AQUELA frase que a envolveria como um REFRÃO de uma melodia que estava muito além da vida

Mas, naquela nova obra, novo livro, a pressa seria sua maior inimiga

Seu marca texto começou a ser silenciado - a FRASE não surgia

Diálogos eram lidos de forma apressada - os nomes começavam a escapar pelos dedos

Onde estava, MILAN KUNDERA, onde estava O REFRÃO que arrimaria sua alma?

Eu comecei a ver uma proximidade quase RELIGIOSA naquela leitura: 

Querer OUVIR E VER rapidamente, 
clamando com anseio, 
sem aceitar que NADA AINDA VEIO
Acendendo velas e arremedos 
E a PALAVRA, o Deus que mais fala, teimosamente, não vinha

Pedi aquele livro emprestado de suas mãos

Folheei e propus que eu leria para ela todas as noites - caso assim concordasse

Ele negou de pronto!

Disse que, naquela mesma noite, abarcaria tudo...

Dias após, ligou para mim

Meu pedido era, enfim, aceito

E eu, que nunca tinha lido nada do KUNDERA, leria em voz alta e calma - para abrir os olhos daquela que tinha tanta sede de VER NA PALAVRA UMA REVELAÇÃO para alma

Já no começo ela pedia que repetisse o enredo inicial, anotou os primeiros nomes: Alain, Ramon, Charles, D'ardelo e Calibã...


Ela entrou em êxtase quando ouviu: "No meu vocabulário de ateu, uma única palavra é sagrada: A AMIZADE" p.30

Pediu que marcasse com seu marca texto e ficou se martelando: "Como não percebi que A PALAVRA estava aqui?! Como não a vi?!"

Enquanto ouvia seu martírio sobre a perda, só pensava em como aquele momento mudaria minhas leituras, começava a aderir à uma literatura mais refinada - que encontro é a vida!

Ela teve que perder - para que eu achasse..

Ainda maturava a ideia de um ateu chamar SAGRADO - UMA AMIZADE SAGRADA - um altar sem ídolos - uma igreja sem deus?

Era sobre isto que meus anseios lidavam - 
Não a perda de minha capacidade de ler BEM - se é que colher FRASES é uma leitura boa...

Enfim...

Combinamos, todo dia, dois capítulos - porque era livro pequeno e de capítulos também pequenos..

Nos dias que nada encontrava no texto - eu tinha que reler, várias e várias vezes

PARECIA que ela queria uma LEITURA ÚTIL do ponto de vista da COLHEITA DE FRASES e refrões...

Pensando na AGONIA dela, lembrei do narciso D'ardelo, personagem da obra, que sobre ele Ramon dissera: 

"Não entendeu NADA, e ainda hoje não entende NADA DO VALOR DA INSIGNIFICÂNCIA"P.23

Eu sei que esta página veio de antes, mas ela não a percebeu e eu também não queria injetar mais terror por mais uma perda de REFRÕES 

Havia, naquela obra, discussões sobre Stálin e seu ar esnobe e viral de soberba - fora chamado de: "marionete"...

MARIONETES seriam aqueles que viveram, lançaram nome na história (de forma positiva ou não) e, depois, teriam suas vidas e falas recontadas por outras pessoas - virariam MARIONETES dos homens do futuro... Historiadores ou não...

Alain queria recontar um fase da história mediante uma peça. Tinha em mente Stálin e o rebatizo da cidade da PRÚSSIA: Könisgsberg (onde nasceu o grande KANT), que , após a segunda guerra, chamou-se KALININGRADO. Em homenagem a KALININ, militante de Stálin naquela cidade, e que tinha problemas de incontinência urinária - em consequência de sua próstata.

Enquanto eu vou querendo ver o enlace da história - ela, e seu MARCA TEXTO, ainda não tinha colhido mais que duas citações - e me fazia repetir quantas vezes quisesse...

Se isso me agoniava? Não! Simplesmente aprendia com aquele passo apressado - lendo e relendo - a ouvia melhor...


Na obra, Alain defendia que a compaixão era possível, mesmo no coração de Stálin. Ver seu companheiro com aquela doença o fazia enternecer ao ponto de batizar uma cidade com seu nome.

Isso fazia seus colegas rirem de Alain.

Haveria coração ainda num homem que há anos bebe sangue e alma de outros?

Essa era sua defesa: "É preciso que o rebatismo se apoie num nome famoso através de todo o planeta e cujo brilho faça calar os inimigos! [....] Como entender então que Stálin escolha o nome de alguém tão nulo? [....] ela pensa com ternura no homem...". p. 39.


Devo dar uma pausa aqui para admitir: EU COMPREI O LIVRO E COMECEI A LÊ-LO EM MINHA CASA - COMPREI ATÉ MARCA TEXTO e me vi buscando, como num alinhavo, sentido em cada uma daquelas FALAS, mas para mim não era uma busca por refrões de sentido - era apenas para tessitura de entendimento daquela linguagem...

Mas eu JAMAIS diria isto - senão não aceitaria que eu continuasse lendo para ela...

Voltando à história da obra…

Alain chega a convencer seus amigos: mais vale um INSIGNIFICANTE que sofre dos mesmos sofrimentos de qualquer simples ser humano, que os grandes heróis que poucos homens podem experimentar histórias como as suas – --------- _

Ver a história de KALININ era se reconciliar com O ABSOLUTO desapego dos significados heroicos e 
alinhar-se com uma vida com significado mais MODESTO – por ser 
REAL.

Assim consentiu Ramon: “Você tem toda razão, Alain. Depois de minha morte, eu quero me levantar a cada dez anos para verificar se KALININGRADO continua sendo KALININGRADO. Se for esse o caso, poderei sentir um pouco de solidariedade com a humanidade e, reconciliado com ela, voltar para minha sepultura.”. p. 40, 41.

O batismo da insignificância ainda salvará a humanidade de TANTA PRETENSÃO E SOBERBA...


Muitos querem ser heróis para vidas alheias à sua: e KALININ queria apenas não urinar na frente dos outros...
Seu ato era simples, contidiano, sem significado heróico: digno de romper a dureza até de um ditador...

O que quebra a alma humana não são grandes homens e milagres inexplicáveis
O que verga a alma humana e GERA HUMANIDADE são atos SIMPLES - despretenciosos - insignificantemente BELOS.


Eu ainda continuarei lendo livros – e continuarei lendo livros para pessoas – isso não significa nada para ninguém – por este mesmo motivo: SIGNIFICA TANTO PARA MIM:

 LER E ESCREVER... 

AQUI...

ou na areia....

Até breve....






quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Hábitos de imaginação...


Habito em terrenos imaginados – imaginários de habitação

Correm aqui nas veias - correias - que prendem e laçam

Eu chamo um tanto 

e canto.... 


Eu fico andando nas páginas - areias em branco

Perguntando aos céus: "A que horas o barco chega?"

Quando rumarei para o curso do sonho?!

Aqui, em meio ao trabalho duro - [áspero muitas vezes] - fico teimando em desenhar na areia

Quem me vê 

Apenas observa uma mesa cheia de papéis e alguns livros - ou muitos

Pensam que estou só alí

Ledo - rápido - engano


Habito onde a rocha do sentimento mais alto possa erguer o meu melhor sonho: uma vida cheia significado

Vês páginas?!

Vejo areias em branco

Vês um coquetel de livros?!

Eu leio entrelinhas - eu rabisco rascunhos que não servem para absolutamente nada!


E se você lê meu blog - lê o que de mim é mais caro: a beleza esvaziada de vaidade

A beleza que tem apego apenas pelo coração do escritor que ora conversa contigo - ora, consigo...


Eu olho o dia

Abra a janela da alma!

Ele te ob(serva)!







quarta-feira, 26 de março de 2014

Uma Crônica da Vida: uma verdade de uma mentira.

Há relatos de história que, até hoje, me descabelam a razão.
Diria que, neste 2014, é lembrada a Ditadura Militar.
Diria, ainda, que, nossa democracia de periferia de mundo, ainda nem se deu conta do que seriam: direitos humanos, função social da propriedade, dignidade da pessoa humana, eficácia dos serviços públicos, moralidade na administração pública...
Pois é, enquanto nada disto existe, leio livros com temas de Direitos que parecem absolutamente factíveis: Direitos Humanos e Fundamentais; Não retroatividade dos Direitos Sociais; Aplicabilidade Imediata dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos; ...
Leio temas de monografias, dissertações e teses; leio acórdãos dos tribunais superiores e – nesse ínterim – leio algumas notícias de jornais...
Fico à margem
Parece que alguém está contando crônica, outros poesias, outros prosas – mas todos, de variadas formas, apenas tentam fazer crônicas da Vida
Aqui em minha Terra do Sol escaldante, leio tantos mandos e desmandos, terra de ninguém, ou de um dono patriarcal só
Aqui leio a crônica dos governantes: gritando verdades para suportar mentiras

E eu, o que agora faço?!
Traço uma linha
Se fosse lápis – quebraria a ponta

Refaria a grafia
Peneiraria com verdades das esquinas, ruas abandonadas, praças que não são mais praças, creches que faltam a integralidade, hospitais que capengam e gemem nos corredores – como se deus tivesse virado as costas, como se o mundo fosse apenas a aparelhagem, a pompa: olha que prédio lindo! Carros lindos! Nada lá dentro está reorganizado - nenhuma reestruturação séria - mas na pompa estamos...

T(anta) mentira do Executivo Estadual e Municipal cearenses

E eu, o que fiz!?
Li esta notícia: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10202888481470370&set=a.1773163766197.2167344.1152382173&type=1&theater


Uma advogada, amiga do estudante morto à bala, tentando sensibilizar parte do nosso setembrismo liberal

Ela queria contar àquele homem a história REAL
Ela queria, ao menos, uma palavra de consolo


Ela, talvez, quisesse saber se as crônicas que o poder daqui conta – são, minimamente, reais

Ela, o que fez?!
Assombrou - no sentido mesmo da palavra: “cobrir-se de sombra”
Tomou um susto

Dá calafrios a resposta fria do “Sr.” Ivo Gomes

Mas é esta a face da realidade:
A crônica da vida desfaz as “verdades” ditas apenas para defender mentiras

O que é, então, uma verdade de uma mentira?!

Lá do alto cume do poder se ouvirá a voz:
“A globo mentiu”
“O povo mente”
“Os estudantes mentem”
“A praça não é praça”

Não me assustaria se alguém perguntassem por aqui - a este alto cume:
“Quem é o Estado aqui no Ceará? ”

E de lá de cima trovejasse a voz:
“O Estado sou eu”. ...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nascemos e morremos pelos dias: sem que vejamos...



Nada mais lhe cabia

O ouvido dizia

A boca ouvia

Não havia muros suficientes

Tudo era amostragem: só a visão dizia conter realidades...

Garanto que o que vi não foi mera fábula!

Mas para que avalie se foi ou não
terás que me seguir com mais do que os seus olhos: ler é mais que visão!

Ela me contou tudo numa livraria
Ali pedia silêncio, mas ela urgia - seguia 

Eu acho incrível quando isto acontece:
Quando um estranho me diz de si, sem que ao menos lhe pergunte algo
E
Quando nos extrapolamos de tal forma que um mero sinal de segurança nos leva a expor o mais alto barulho dentro de nós..

Ela me disse rapidamente:

"Se todo dia fosse assim eu já me despediria de amanhecer…"

Achei que era um sinal de socorro (O Sinal de fumaça que vemos é Deus querendo nos humanizar): 

"É verdade, mas que bom que os dias nos provam que a vida não é só sinal de alerta - há mistério, surpresa… A graça de viver está no próximo dia, no outro sorriso, em tudo que o hoje nos aguarda vencer, você não acha? É como se o futuro fosse a medalha para os que vencem o presente e a pena para os que fugiram dele…"

Ela sorriu baixando a cabeça. Timidez?!, nem sempre, na maioria das vezes é peso mesmo o que faz as pessoas não nos olharem nos olhos…

"Qual o teu nome?!"

Eu me chamo: "Você triste"

"Como?"

"Sim, eu sou você quando estás triste! Não vês como nos aparentamos?!"

Você parou de ler aqui!?
Era fábula então, sonho!?

Aquele sinal de fumaça
estava do lado de dentro...

Só queria que soubesse que, naquela livraria, naquele encontro com "Você triste" eu pensei em como poderia me ajudar sempre que pudesse ver além do instante..

E quanto a instante queria aqui dizer algumas linhas mais
E, se tiver tido paciência com  o texto, poderá ter também algo para os teus sinais de fumaça


O que há na vida que nos impregna e nos larga tanto!?

Nascemos e morremos pelos dias: sem que vejamos...



Nascemos quando amamos

Morremos quando odiamos
Nascemos quando sonhamos
Morremos quando nos frustamos
Nascemos quando conquistamos
Morremos quando perdemos
Nascemos quando sorrimos
Morremos quando choramos
Nascemos quando chegamos
Morremos sempre quando PARTIMOS

Nascendo e Morrendo, mas em ambos: vivendo.



O que mais escuto é que se deve ser feliz e sempre

Para combater a ideia pequena de um SER FELIZ irrefletido

Queria trazer algumas linhas mais - ainda há alguém aí!? rsrsrs (Já disse, escrevo como cantam os passarinhos: para o nada e pelos os céus!)


"De Sócrates para cá, a visão de vida passou a receber a imagem de felicidade. em grego "felicidade" é "eudaimonia", literalmente o bom demônio ou anjo protetor. Seria o anjo da guarda que garante a vida feliz, isto é, livre de qualquer incômodo e repleto de satisfação."( Sêneca, p.92).


Olha aí!


Nunca tinha ouvido isto?!

Não talvez com esta abordagem, mas a ideia de um anjo protetor, de um deus que de tudo nos blinda: esta vontade e imagem é pacífica  - principalmente na sociedade ocidental…

Daí você se deprime, daí você se encaixota, daí você nem se nota - tem até raiva de si por não cantar sempre a mesma nota!


Morrer não cabe nesse conceito

O anjo da guarda não pode ter sossego
Nascer sempre e a toda hora
É então esse o maior desejo

Eudaimonias!

Querer um amor perfeito - eterno - pleno - infinito
Querer um sucesso, dinheiro, casa, carro, tudo mais que o vizinho 
Querer A beleza, A saúde - ser estátua, talvez um busto no Olimpo dessa odisséia sem fim

Querer 

Não só por querer
Querer
"Porque aos anjos darás ordem ao teu respeito!"
E esquecer que o mundo não é feito só de mim

Querer

E muito terá de nascer
Querer
Mas o morrer vez ou outra virá discorrer

Eu queria não usar poesias

Nem metáforas
Nem a palavra
Mas o que quero morreu quando esse texto nasceu…


"Viver é todos os dias partejar a vida" (Lya Luft, p.120)


Mas é também morrer de tanto viver


Como dito de forma aguda por Loius-Ferdinand Céline no seu belíssimo romance: "De Castelo em Castelo":


"Ah, vi muitas agonias…aqui…ali…por todo lado…

mas nem de longe tão belas, discretas….fiéis…
O que estraga a agonia dos homens é a POMPA…
O homem está sempre no palco…até o mais simples".(p.29).

A vida FELIZ intocada, só de nascimentos

É a velha eudamonia - os falsos ídolos que nos querem imprimir Uma POMPA sutil, mas que pesa, ao invés de um AMOR PELA VIDA que tudo releva...

Se você me acha pessimista, possivelmente, você é alguém que crê em um só lado da realidade - eu quero mais que a FELICIDADE eu quero a VERDADE...


"Não é pessimismo nem desespero, é uma simples evidência, mas uma evidência que, habitualmente, está velada, por pertencermos a uma coletividade que nos cega com seus sonhos, suas excitações, seus projetos, suas ilusões, suas lutas, suas acusas, suas religiões, suas ideologias, suas paixões. E depois, um dia, cai o véu e nos deixa sós..."(Kundera, p.21).


Seja bendito este dia

E que c(ai)a o véu (de nós)...