quarta-feira, 24 de julho de 2013

"Antígona"(Sófocles); "Prometeu Acorrentado" (Ésquilo)...


 Sófocles na declamação do Coro, em Antígona. Uma ideia tão idealizada do ser humano que chega a ser boba!

“Há muitas maravilhas no mundo, mas a maior é o homem.
Ele é o ser que, sabendo atravessar o mar cinzento na hora em que sopram o vento do sul e suas tempestades, segue seu caminho por sobre os abismos
que lhe abrem as ondas levantadas. Ele é o ser que trabalha a deusa augusta entre todas, a Terra,
a Terra eterna e incansável, com suas charruas que a sulcam ano a ano sem cessar; e a lavra pelas crias de suas éguas.
Os pássaros aturdidos são apreendidos e capturados,
assim como a caça dos campos e os peixes que povoam os ma- res, nas malhas de suas redes,
pelo homem de espírito engenhoso. Graças às suas habilidades, assenhoreia-se

do animal selvagem que percorre as serranias, e no momento azado subjuga tanto o cavalo de crina espessa quanto o infatigável touro das montanhas.
Palavra, pensamento rápido como o vento, aspirações donde nascem as cidades, tudo isto ele aprendeu sozinho, assim como soube, ao construir um abrigo,
evitar os ataques do gelo e da chuva, cruéis para quem não possui outro teto senão o céu.
Prevenido contra tudo, não se acha desarmado contra nada que lhe possa reservar o futuro. Contra a morte, apenas, não poderá escapar por nenhum sortilégio, ainda que já tenha sabido, contra as doenças mais renitentes, encontrar vários remédios.

Mas, ao se tornar assim senhor de um saber cujos engenhosos recursos ultrapassam toda esperança, ele pode em seguida tomar o caminho do mal como o do bem.
Que ele inclua pois, nesse saber, as leis do seu Estado e a justiça dos deuses, à qual jurou fidelidade!

Ascenderá então às mais elevadas posições em seu Estado, ao passo que dele pode ser banido no dia em que deixar o crime contaminá-lo por bravata.” 


Mais Lúcido e arguto, Ésquilo sentencia em seu "Prometeu Acorrentado"- a esperança pode ser uma fuga:



“O CORIFEU - Foste, sem dúvida, ainda mais longe? 

PROMETEU - Sim, livrei os homens da obsessão da morte. 

O CORIFEU - Que remédio descobriste para esse mal? 

PROMETEU - Instalei neles cegas esperanças”.

Das taças d(a) vida...


Há taças que pedem silêncio

Tais taças são fundas – profundas

O brinde que se faz com elas é insuficiente
Requer conteúdos
cheiros
cores
motivos


As gotas que de lá gotejam são desperdícios - suicídios

Há tantas taças 

Todas incertas - por serem muitas
Todas quietas  - por serem vivas

Elas lembram reinos e banquetes
Mas também goles de amargura



O que está sentado em seus banquetes são intraduzíveis necessidades
Muitos sentam-se agora em banquetes infinitos, mas não saciam fomes e sedes mais infinitas ainda

Há taças que não contém o que a alma bebe

Há taças que falam por si
Outras que só querem ser ouvidas

O dia-taça também é assim
Pedindo silêncios, falas, cheiros, cores, brindes, motivos

Lancei ao ar o dia como uma taça
Desejei brindar o mais simples do instante

Ao ar
Só não faltaram motivos para desistir do brinde
Ao ar
Só um céu inabalável confrontando minha frágil mão - erguida

E foi assim
Deslocando os olhos da taça
Entreolhando a muralha azul do céu

Olhando assim
A taça parecia um prenúncio
Um grito de combate
Um desmontar os muros dos  meus limites!


Se puder:
Erga a alma,
Antes das taças

O que há em ti
é mais fundo
Do que o Universo inteiro

A taça humana não contém fim
A taça humana é este intraduzível
sem-fim...



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dos dias...



São dias difíceis os nossos
Dias em que o que muito se pede – não se investe
Dias em que o Sol, a Lua, o Mar, as Estrelas e o todo do universo não é suficiente
Insuficientes

São dias cinzas os nossos
Máquinas-pessoas que mal conhecem, mal saem, mal conversam, mal se veem
Máquinas-pessoas que tudo querem, nada querem, tudo sabem, nada sabem
Frenéticos
Freneticamente

São dias como nenhum outro
São dias que parecem menos que os outros
São dias de tributos – tudo e todos à nos cobrar
Insanos
Instantâneos 


São dias, ainda
São ainda, dias
 São dias ainda... e nada é ainda tanto para tantos.....

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"O Lucro ou as pessoas? (Noam Chomsky)


Do que eu temo - e muito...

"Nas palavras de Gerald Haines, especialista em história da diplomacia e antigo historiador da CIA: “Depois da 2a Grande Guerra, os Estados Unidos assumiram, por interesse próprio, a responsabilidade pela prosperidade do sistema capitalista mundial”. O foco de Haines é o que chama de “americanização do Brasil”, mas apenas como caso particular. E suas palavras são bastante exatas."

"A “construção da América das sociedades anônimas” ao longo do último século foi um ataque à democracia – e aos mercados, e é parte da transformação de algo que se assemelhava ao “capitalismo” nos mercados fortemente administrados da moderna era do Estado e das S.A. Uma variante atual é chamada de “diminuição do Estado”, ou seja, a transferência do poder decisor da arena pública para outros lugares: “para as pessoas”, na retórica do poder; para as tiranias privadas, no mundo real. Todas essas medidas são projetadas para limitar a democracia e domar a “gentalha”, como era chamada a população por aqueles que se auto-designavam “homens bons” na Inglaterra do século 17, ao tempo da primeira irrupção da democracia na época moderna; os auto-designados “homens responsáveis” de hoje. Os problemas básicos persistem, assumindo formas sempre novas, suscitando novas medidas de controle e marginalização e conduzindo a novas formas de luta popular.



terça-feira, 9 de julho de 2013

O Direito e as palavras - camaleônicos...



Um dos artefatos mais interessantes da humanidade é o da palavra.
Sua origem pode remontar aos períodos arcaicos da humanidade.
Os primeiros signos – suas primeiras formas de desenhar comunicações.
Nas paredes de alguns museus arqueológicos ainda há rastros deste período.
Fico ainda impressionada com a revolução que as palavras promovem.
Tal como a arte – as palavras resguardam signos a partir do seu tempo e, por vezes, para muito além deste.
O direito é filho também deste aparato linguístico, ainda em países ditos de commom law, é imprescindível esta marca indelével que os julgados e produções legislativas,, e até do executivo, deixam como vetor do que querem significar sobre o que é o Direito para o seu tempo – e o que pretende ser.
Ante isto, os países de constitucionalismo textual – chamados assim por sua herança e prática civil law, veem a significação textual do que lhe seja Direito como primeiro passo – como cláusula de segurança.
O Brasil é um exemplo deste constituciolanismo “textual”. Tanto é que seu amontoado de Emendas (até o momento são 72 duas em vigor) não silencia a necessidade que o constitucionalismo pátrio enxerga de arranhar no mural constitucional o que lhe seja como valor supremo. 
É esta a herança. Lidamos com um Direito que não é – está. Seja ele de forma silente – costumeira – na prática estatal dos países de herança commom law ou, no caso do Brasil, na guerra por uma definição expressa no texto constitucional dos valores que lhe são caros.
Este pendão constitucionalista brasileiro se deve ao período das revoluções burguesas do começo do século XVIII, com o rompimento do antigo regime e o início do Iluminismo. Esta foi a era em que o racionalismo começou a perceber no Direito nacional um instrumento de contenção do arbítrio do soberano. E qual a base desta renovação?! A positivação dos chamados "Direitos Humanos" nas constituições nacionais.

Após estes Direitos, humanos, o Direito não teria mais sossego...