terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Nascemos e morremos pelos dias: sem que vejamos...



Nada mais lhe cabia

O ouvido dizia

A boca ouvia

Não havia muros suficientes

Tudo era amostragem: só a visão dizia conter realidades...

Garanto que o que vi não foi mera fábula!

Mas para que avalie se foi ou não
terás que me seguir com mais do que os seus olhos: ler é mais que visão!

Ela me contou tudo numa livraria
Ali pedia silêncio, mas ela urgia - seguia 

Eu acho incrível quando isto acontece:
Quando um estranho me diz de si, sem que ao menos lhe pergunte algo
E
Quando nos extrapolamos de tal forma que um mero sinal de segurança nos leva a expor o mais alto barulho dentro de nós..

Ela me disse rapidamente:

"Se todo dia fosse assim eu já me despediria de amanhecer…"

Achei que era um sinal de socorro (O Sinal de fumaça que vemos é Deus querendo nos humanizar): 

"É verdade, mas que bom que os dias nos provam que a vida não é só sinal de alerta - há mistério, surpresa… A graça de viver está no próximo dia, no outro sorriso, em tudo que o hoje nos aguarda vencer, você não acha? É como se o futuro fosse a medalha para os que vencem o presente e a pena para os que fugiram dele…"

Ela sorriu baixando a cabeça. Timidez?!, nem sempre, na maioria das vezes é peso mesmo o que faz as pessoas não nos olharem nos olhos…

"Qual o teu nome?!"

Eu me chamo: "Você triste"

"Como?"

"Sim, eu sou você quando estás triste! Não vês como nos aparentamos?!"

Você parou de ler aqui!?
Era fábula então, sonho!?

Aquele sinal de fumaça
estava do lado de dentro...

Só queria que soubesse que, naquela livraria, naquele encontro com "Você triste" eu pensei em como poderia me ajudar sempre que pudesse ver além do instante..

E quanto a instante queria aqui dizer algumas linhas mais
E, se tiver tido paciência com  o texto, poderá ter também algo para os teus sinais de fumaça


O que há na vida que nos impregna e nos larga tanto!?

Nascemos e morremos pelos dias: sem que vejamos...



Nascemos quando amamos

Morremos quando odiamos
Nascemos quando sonhamos
Morremos quando nos frustamos
Nascemos quando conquistamos
Morremos quando perdemos
Nascemos quando sorrimos
Morremos quando choramos
Nascemos quando chegamos
Morremos sempre quando PARTIMOS

Nascendo e Morrendo, mas em ambos: vivendo.



O que mais escuto é que se deve ser feliz e sempre

Para combater a ideia pequena de um SER FELIZ irrefletido

Queria trazer algumas linhas mais - ainda há alguém aí!? rsrsrs (Já disse, escrevo como cantam os passarinhos: para o nada e pelos os céus!)


"De Sócrates para cá, a visão de vida passou a receber a imagem de felicidade. em grego "felicidade" é "eudaimonia", literalmente o bom demônio ou anjo protetor. Seria o anjo da guarda que garante a vida feliz, isto é, livre de qualquer incômodo e repleto de satisfação."( Sêneca, p.92).


Olha aí!


Nunca tinha ouvido isto?!

Não talvez com esta abordagem, mas a ideia de um anjo protetor, de um deus que de tudo nos blinda: esta vontade e imagem é pacífica  - principalmente na sociedade ocidental…

Daí você se deprime, daí você se encaixota, daí você nem se nota - tem até raiva de si por não cantar sempre a mesma nota!


Morrer não cabe nesse conceito

O anjo da guarda não pode ter sossego
Nascer sempre e a toda hora
É então esse o maior desejo

Eudaimonias!

Querer um amor perfeito - eterno - pleno - infinito
Querer um sucesso, dinheiro, casa, carro, tudo mais que o vizinho 
Querer A beleza, A saúde - ser estátua, talvez um busto no Olimpo dessa odisséia sem fim

Querer 

Não só por querer
Querer
"Porque aos anjos darás ordem ao teu respeito!"
E esquecer que o mundo não é feito só de mim

Querer

E muito terá de nascer
Querer
Mas o morrer vez ou outra virá discorrer

Eu queria não usar poesias

Nem metáforas
Nem a palavra
Mas o que quero morreu quando esse texto nasceu…


"Viver é todos os dias partejar a vida" (Lya Luft, p.120)


Mas é também morrer de tanto viver


Como dito de forma aguda por Loius-Ferdinand Céline no seu belíssimo romance: "De Castelo em Castelo":


"Ah, vi muitas agonias…aqui…ali…por todo lado…

mas nem de longe tão belas, discretas….fiéis…
O que estraga a agonia dos homens é a POMPA…
O homem está sempre no palco…até o mais simples".(p.29).

A vida FELIZ intocada, só de nascimentos

É a velha eudamonia - os falsos ídolos que nos querem imprimir Uma POMPA sutil, mas que pesa, ao invés de um AMOR PELA VIDA que tudo releva...

Se você me acha pessimista, possivelmente, você é alguém que crê em um só lado da realidade - eu quero mais que a FELICIDADE eu quero a VERDADE...


"Não é pessimismo nem desespero, é uma simples evidência, mas uma evidência que, habitualmente, está velada, por pertencermos a uma coletividade que nos cega com seus sonhos, suas excitações, seus projetos, suas ilusões, suas lutas, suas acusas, suas religiões, suas ideologias, suas paixões. E depois, um dia, cai o véu e nos deixa sós..."(Kundera, p.21).


Seja bendito este dia

E que c(ai)a o véu (de nós)...

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Subi a montanha...

Eu estava contando as horas
como quem cata gotas de mar para levá-las para seu pequeno castelo...

Eu estava cantando para fora de casa
como se pudesse dividir-me em instâncias e lançar algo para o lado de fora de mim...

Eu estava seguindo um outro passo
como se ser sombra me fosse o mais perfeito esconderijo

Sim, era eu!

Olhando agora, qual monge, nem me percebo...

Como então me vi?!
Subi a montanha

Levei comigo apenas a minha alma: esquecida naqueles pátios dos dias - vagando, qual fantasma, cheia de arritmias 
Levei comigo apenas o meu sopro, fôlego, para ver se agora conseguiria

Subi a montanha
Não conseguia olhar para trás

Subi a montanha
Com medos
Subi

Subindo a montanha e meu silêncio não dizia nada
Lembrava de teorias, frases e nada aquietava

Subindo a montanha ouvi a beleza assanhada 

Cantavam ainda pássaros
As folhas ainda tremulavam e as árvores pareciam me falar

Parei na montanha para me ver - me encontrar 

A noite começava a cravejar de luz o céu 
E eu, que há anos não me via, agora via os meus olhos espelhando os céus

Dormi na montanha
Nem sei o que lá ocorreu
Dormi na montanha
Ouvindo a lira de Orfeu...

Já era outro dia
E a montanha não era a mesma - nem eu

Segundo dia
Subindo a montanha
Cheguei ao cume - não da montanha, mas do que chamam de
"EU"

Parei bem ali e afirmei: é bem aqui!
Sim, aqui onde subi a montanha em mim
Sim, aqui mesmo!

Quando souberem que meu "subir a montanha" durou só dois dias saberão que não fui até o seu cume
Eu rirei deles

É que eles já não me im(pressionam)!

Subi a montanha, para mim um fato
Sem malas, mapas ou calçados

Subi a montanha e jamais desci

Isso é o que acontece agora, sem que você veja, faço escaladas em mim....