sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O DERRISÓRIO SILÊNCIO DO MUNDO.


Foi ontem. 

Aqui no Brasil, 

calaram o umbigo que liga o mundo: 

o Whatsapp. 

Silenciou.
...
..

Queria olhar no olho do mundo e pedir para voltar atrás

Sim

Desejei o mais tolo sentido:

E o mundo, derrisório, silenciou meu pedido….

Pensei em voltar ao tempo em que as cartas, os telefones, os afetos, eram construídos de maneira mais custosa - e não no sentido capital - mas quanto ao tempo e envolvimento pessoal para construções afetivas

Meu esforço de tentar compreender o mundo e alinhá-lo a algo que me cause esperança é meu fio de prata com a ideia de viver pela poesia dos dias

Retribuí aquele sorriso irônico com a máxima de MORIN:

"Sem esperança você não encontrará o inesperado.". (2010, p.32). 
  
Eu ando pelo mundo semeando uma esperança que nem sei mais se sobrevive em mim

Como professora de filosofia do Direito, proporei a ideia de BAUMAN – a:
"Praxeomorfia"

Não se assuste com o tamanho da palavra.

Não é palavrório para impressionar, mas uma prática de redesenhar a própria existência.
Veja este exemplo:






Assim como esta estação, que foi reeditada com a intervenção da arte,
Acho que podemos redesenahar nossa existência e dias…
Mas isto nos custará uma dose de esperança que , para muitos, soará quase infantil, insegura, incerta...

Mas acredito na vida como uma "obra de arte" pintada mais com as cores das incertezas que das certezas:

"Nossa vida, quer saibamos ou não, quer apreciemos o fato ou o lamentemos, é obra de arte. Para viver nossa vida como exige a arte de viver, temos - assim como artistas - de nos impor desafios difíceis de confrontar de perto, objetivos bem além de nosso alcance, padrões de excelência que pareçam distantes de nossa capacidade para alcançá-los. precisamos tentar o impossível. SÓ PODEMOS ESPERAR, SEM O BENEFÍCIO DE PROGNÓSTICOS CONFIÁVEIS (O QUE DIRÁ DE CERTEZAS), que, com esforços longos, árduos e muitas vezes exaustivos, ainda conseguiremos satisfazer padrões e alcançar objetivos, e, assim, aceitar o desafio. INCERTEZA É O HABITAT DA VIDA HUMANA."(BAUMAN, 2011, p.24).
  
O silêncio do mundo - aqui representado pela decisão judicial que determinou, liminarmente, a suspensão por 24 horas dos serviços do Whatsapp -  é o início da recuparação da nossa fala – (Ver mias: http://www.conjur.com.br/2015-dez-17/oi-entra-habeas-corpus-suspender-bloqueio-whatsapp).

Outra linguagem?
Sim.
e não sabemos como aprender sua grafia e gramática

Não sabemos ler o mundo.

“Queixamo-nos de que as pessoas não leem livros. Mas o déficit de leitura é muito mais geral. Não sabemos ler o mundo, não lemos o outro.”.(COUTO, 2012, p.103).

Quando o mundo silenciou as pessoas sofreram: a solidão maquiada com as frágeis conexões alardearam o medo

Medo de estarem só

E eu pensando sempre no todo - ou no outro - , mas, e eu…?
"O homo homini lups - o homem é o lobo do próprio homem. É uma das máximas mais firmes da moralidade eterna. Em cada um de nossos próximos tememos um lobo. Somos tão pobres, tão fracos, tão facilmente arruinados e destruídos! Como podemos evitar o medo?…Enxergamos perigo, apenas perigo…". (Leon Shestov).

Quando o mundo me respondeu derrisório  - O que eu consegui ler?

O que você conseguiu ler do dia sem whatsapp?
O que consegue ler deste texto?


Cada vez menos sabemos ler o mundo
Não sabemos ler o outro

Os instrumentos  - os nossos novos dialetos - são cada vez mais de distanciamento

Não aprendemos a ler – o mundo

E quem nos salvará deste analfabetismo de alma?

  



sábado, 21 de novembro de 2015

Das missangas sem um fio

"A missanga, todos veem. 
Ninguém nota o fio que, em colar vistoso, vai compondo as missangas.
Também é assim a voz do poeta:
Um fio de silêncio costurando o tempo."(Couto, 2012, p.12). 



















"Das missangas sem um fio"












Vou lançar minha fala ao mundo


Vou correr descalça na chuva
Vou gritar na madrugada silenciosa
Vou procurar quando todos já tiverem encontrado
Vou guardar o que todos já tiverem perdido
Vou subir quando a montanha tiver encerrado
Vou viver sem um fio - e não pretendo enfeitar vida em missangas 
Vou trancar os degraus da escada


Eu vou 
por um descaminho impossível

Eu vou 
costurando o tempo com um sorriso invisível.... 

Eu vou correr o risco de escrever com um fio e formar um composto confuso de missangas
As palavras são este fio invisível querendo compor com as cores que o mundo expõe
Talvez seja isso uma das formas de liberdade

"Escrever é sempre correr o risco de devolver ao desejo sua liberdade....p.47
As palavras são sempre péssimas tradutoras dos sentimentos....p.111
Para sentir é necessário esvaziar o corpo de pensamentos. p.112

".(warat, 2000).

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O ser Professor e os olhos no Mundo que v(irá)...


Os encontros designados Biologia na noite sugerem a possibilidade de recriar uma fogueira imaginária em redor da qual podemos fazer aquilo que creio ser tão necessário nos nossos dias. E que é reencantar o mundo. Uma constrangedora aridez foi-se instalando como nossa condição comum. A culpa não é evidentemente nossa. Mas nós herdamos uma ideia de ciência que vive de costas para a necessidade de trazer leveza e construir beleza. (MIA Couto. P.49 e se Obama fosse africano? Ensaios).



Quero trazer aqui um ensaio sobre a importância do mestre por meio de um ensino poético -  inspirador. Quero resgatar o mais antigo discurso: a iluminação que nos move a seguirmos alguém.

Quero propor um ensino que angarie alunos pela alma.

Quero esquecer um pouco toda estilística acadêmica, quero sentar ao lado de Warat e reaprender a falar e a ouvir – desconstruir a robustez mirrante dos “juristas”.

Quero me importar menos com o ritmo frenético dos cursos de Direito – quero descansar o começo e o fim da aula com algo que os alunos levem para dentro de si.

Quero que os alunos vejam o mundo. Para começar, vejam o professor. Este ser invisível para alguns, este redator das notícias e conhecimentos, serviçal apenas, tem alma profunda e afunda quando não visto

Este breve ensaio fala do quanto nos perdemos – e falo, intensamente, do curso de Direito, mas sei que há problemas por todos os lados – como não sou um mundo todo – trato do que abarco.

Quero encontrar colegas de profissão e ver nos olhos deles novo ânimo. 

Quero alunos menos beligerantes, mais amáveis, menos amargos, menos orgulhosos, menos soberbos, principalmente, os ditos “concurseiros” – toda esta armadura seja deixada de lado – ao entrar em sala – quero que eles abram a janela da alma e me olhem nos olhos...

Talvez este ensaio seja movido pelo dia de hoje: 15 de outubro, mais um dia do professor que vivo, 

Talvez este ensaio seja uma “poética do devaneio”(BACHELARD) – 

Convido a todos achando que o mundo inteiro não me lerá, mas, se você me leu até o momento, o mundo inteiro não importa. 

Importa, de verdade,
o mundo que virá.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Mamushka canotilhiana...



Mamushka canotilhiana...





Uma comunidade que tem a mulher como símbolo de força e poderio é, necessariamente, uma comunidade distinta da maioria...Um Viva à Rússia então!

: "A boneca russa Matryoshka (Matrioshka), (também conhecida como Mamushka) ou “boneca russa” na verdade é um conjunto de bonecas ocas de tamanhos decrescentes colocadas uma dentro de outra. O nome “Matryoshka" é proveniente do nome real feminino russo “Matryona", que era um nome muito popular entre camponeses na Rússia antiga. Dizem também, que o nome “Matryona" possui a raiz latina, "mater", que significa “Mãe”. Portanto, para muita gente esta boneca simboliza maternidade e fertilidade. 

Normalmente as Matryoshkas são figuras de madeira que podem ser desmontadas para tirar uma menor de dentro dela, que também contém outra menor, e assim por diante. O número de figuras pode variar de três a dezenas, mas os conjuntos de cinco ou de sete são os mais comuns. "(Disponível em:<http://aprender-russo-online.blogspot.com.br/2009/02/historiaorigemmatrioshkamamushka.html>.). 

Aqui, a Babuscha Canotiliana não chega a tanto.

Utilizo esta imagem para trilhar o já mal humorado debate entre REGRAS E PRINCÍPIOS no Direito Brasileiro.

Claro, sem deixar de mencionar a obra: "ENTRE HIDRA E HÉRCULES: PRINCÍPIOS E REGRAS CONSTITUCIONAIS"MARCELO NEVES

Sou professora de Hermenêutica Jurídica há alguns anos, é interessante perceber como os alunos querem tudo dissecado - um "self" de uma sociedade rápida e superficinal...

óbvio, não todos - graças a Deus e à beleza da vida!

Enfim, num resumo que diferencie REGRAS DE PRINCÍPIOS, preciso apontar, inicialmente, que são DIFERENTES, quando eles se apoderam disto - os injeto com as temáticas que apontam o EXATO OPOSTO...

Meu objetivo: PENSEM, ALUNOS! Pensem!!!


Eles chegam a sorrir...

É muito interessante a experiência 
Voltando ao tema...


Canotilho tenta elencar OS PRINCÍPIOS como mais ou menos generalizantes,; abstratos; colidem aparentemente, não entram em antinomias reais; são "mandados de otimização"(R. ALEXY)... até chegar ao ponto fulcral, que ALEXY também coaduna:

Princípios, quando aplicados, perdem todas aquelas tradicionais características e tornam-se em regras especificadas, bem delimitadas pelas cores do caso concreto....

Por isso o meu gráfico
Mamushka!
Das Bonequinhas grandes às pequenas – todas encerram a mesma imagem: regras e princípios, como teorizado pela doutrina é um grande erro de SIMPLIFICAÇÃO DO DISCURSO!

Marcelo Neves aponta isto com grande espanto: as regras se tornaram, no BRASIL, HIDRAS, inimigas do Direito. E os princípios se tornaram a grande salvação - ele então, de teima, inverte o discurso: "Em nossa formulação, ao contrário, os princípios tem o caráter de Hidra, enquanto as regras são hercúleas.".(2014, P.XVII). 


Pronto, nem doeu ler um pouco sobre Canotilho, Müller, Alexy, Neves e a aplicabilidade dos princípios constitucionais, se antes não conseguia, faltava apenas esforço...que fique então a imagem e com elas seus signos...

Veja agora a Mamushka e lembre: à mulher se deve o respeito e reverência do seu ser singular

Olhe então para ela e lembre: AS REGRAS e os PRINCÍPIOS - todos cabem dentro de um mesmo discurso - no caso concreto - na partilha - se avizinham ...


Agora, se você me diz:
Professora, nem tenho Mamushka
Aluno, crie!
Aluno, pense!
Aluno...

Ser profesor é conversar com alunos imaginários...
Eu atravesso salas de aula por onde ando.


hasta!
Ileide Sampaio.