segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sentir sentidos da alma europeia...



Acabo de rever fotos de minha primeira jornada a Europa...

Acabo de aterrissar em FOR, mas ainda sinto a mente flutuante, o olhar confuso...

Cheguei de 10 dias incríveis em Lisboa, Sintra, Vigo, Santiago de Compostela e Paris e me faltam palavras para relatar

Só de um acontecimento me arrependi: não ter tido tempo de ter tomado nota do tanto que vi e ouvi, que pensei e criei...ficou tudo escrito nas nuvens de meus sonhos, no espelho do meu sorriso...

Uma canção se repetiu constantemente: "obrigada meu Deus!Obrigada..."

Olhar para a Europa que tanto sonhei era escandaloso demais

Ficava embaralhada

Fugia do assunto dos amigos-estudantes que lá estavam comigo

Percorria cada curva, queria registrar na alma cada olhar estrangeiro, que de estranho nada tinha

Pessoas felizes e tristes pelos mesmos motivos que nos fazem flutuar...

Senti a alma europeia

O porquê de seus bons escritos, sua filosofia encantadora, seu descontentamento inconstante

A culpa é do vasto

Da imensidão de formas

Dos resquícios de história bem guardados

Daqueles jardins e castelos amontoados, formando um coquetel de delícias para a alma

A culpa é da substância da Europa: sua alma misturada em faces de ontem , hoje e amanhã

A história prot(AGONIZADA) por esse continente tem seus porquês

E não podem ser resumidos apenas por intentos colonizadores e crus

Há algo de metafísico no ar que atordoa...

O frio e céu escuros jorravam um caldo assustador de tão belo

As estátuas pareciam falar

A imponência de suas praças deixava qualquer um entregue a um minuto de descanso admirado...

Os cafés lotados são sinais de tudo isto...é necessário mais tempo para pensar...

Conheci a Europa?!

Não!

Comecei a entrevê-la

E assim, sentir os sentidos e não só vê-los...

Não há como não suspirar...

"A saudade é o bolso , onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas, foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletida no rio do tempo. "Rubem Alves

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

POR QUE É DIFÍCIL PARA O OCIDENTAL COMPREENDER O ORIENTE - Carl-Gustav JUNG

A. POR QUE É DIFÍCIL PARA O OCIDENTAL COMPREENDER O ORIENTE

Como ocidental, e sentindo à sua maneira específica, experimentei a mais profunda estranheza diante do texto chinês do qual se trata. É verdade que um certo conhecimento das religiões e filosofias orientais auxiliara de certo modo meu intelecto e minha intuição, a fim de compreendê-lo, assim como entendo os paradoxos das concepções religiosas primitivas em termos de "etnologia" ou de "religião comparada". Este é o modo ocidental de ocultar o próprio coração sob o manto da chamada compreensão científica. E o fazemos, em parte devido à misérable vanité des savants, que receia e rejeita com terror qualquer sinal de simpatia viva, e em parte porque uma compreensão simpatética pode transformar o contato com o espírito estrangeiro numa experiência que deve ser levada a sério. Nossa objetividade científica reservaria este texto para a perspicácia filológica dos sinólogos, preservando-o cuidadosamente de qualquer outra interpretação. Mas RICHARD WILHELM penetrou demais no segredo e na misteriosa vivência da sabedoria chinesa, para permitir que essa pérola intuitiva desaparecesse nas gavetas dos especialistas. É grande a minha honra e alegria de ter sido designado para fazer o comentário psicológico desse texto chinês.
No entanto, este fragmento precioso que ultrapassa o conhecimento dos especialistas talvez corra o risco de ser tragado por outra gaveta científica. Menosprezar os méritos da ciência ocidental, porém, eqüivaleria a renegar as próprias bases do espírito europeu. De fato, a ciência não é um instrumento perfeito, mas nem por isso deixa de ser um utensílio excelente e inestimável, que só causa dano quando é tomado como um fim em si mesmo. A ciência deve servir e erra somente quando pretende usurpar o trono. Deve inclusive servir às ciências adjuntas, pois devido à sua insuficiência, e por isso mesmo, necessita de apoio das demais. A ciência é um instrumento do espírito ocidental e com ela se abre mais portas do que com as mãos vazias. É a modalidade da nossa compreensão e só obscurece a vista quando reivindica para si o privilégio de constituir a única maneira adequada de apreender as coisas. O Oriente nos ensina outra forma de compreensão, mais ampla, mais alta e profunda — a compreensão mediante a vida. Conhecemos esta última a modo de um sentimento fantasmagórico, que se exprime através de uma vaga religiosidade, motivo pelo qual preferimos colocar entre aspas a "sabedoria" oriental, remetendo-a para o domínio obscuro da crença e da superstição. Desta forma, ignoramos totalmente o "realismo" do Oriente. Não se trata porém de intuições sentimentais, de um misticismo excessivo que tocasse as raias patológicas de um ascetismo primitivo e intratável, mas de intuições práticas nascidas da flor da inteligência chinesa e que não temos motivo algum para subestimar.
Esta afirmação talvez pareça temerária, provocando a desconfiança de alguns, o que não é de se estranhar, uma vez que é extremo o desconhecimento da matéria em questão. Além disso, a singularidade do pensamento chinês salta à vista, sendo compreensível nosso embaraço no tocante ao modo pelo qual ele poderia associar-se à nossa forma de pensar. O erro habitual (o teosófico, por exemplo) do homem do Ocidente lembra o do estudante que, no "Fausto", de GOETHE, recebe um mau conselho do diabo e volta as costas, com desprezo, para a ciência; o erro ao qual me refiro é o de interpretar erroneamente o êxtase oriental, tomando ao pé da letra as práticas da ioga, numa imitação deplorável. Abandonar-se-ia desse modo o único chão seguro do espírito ocidental, para perder-se nos vapores de palavras e conceitos que nunca se originariam em cérebros ocidentais e nunca neles se enxertarão com proveito.
Disse um antigo adepto: "Se o homem errado usar o meio correto, o meio correto atuará de modo errado".1 Este provérbio chinês, infelizmente muito verdadeiro, se contrapõe drasticamente à nossa crença no método "correto", independentemente do homem que o emprega. No tocante a isso, tudo depende do homem e pouco ou nada do método. Este último representa apenas o caminho e a direção escolhidos pelo indivíduo; é o modo pelo qual o indivíduo atua nesse caminho que exprime verdadeiramente o seu ser. Se assim não fosse, o método não passaria de uma afetação, de algo construído artificialmente, sem raiz e sem seiva, servindo apenas à meta ilegítima do auto-engano. Além disso, poderia representar um meio de o indivíduo iludir-se consigo mesmo, fugindo talvez à lei implacável do próprio for. Tudo isto está muito longe da con-sistência e da fidelidade a si mesmo do pensamento chinês. À diferença deste, tratar-se-ia, na hipótese acima formulada, de uma renúncia ao próprio ser, de uma traição a si mesmo e de uma entrega a deuses estranhos e impuros, artimanha pusilânime no sentido de usurpar uma superioridade anímica e tudo aquilo que é justamente o contrário do "método" chinês. Essas intuições surgiram da vida mais plena, autêntica e verdadeira, da vida arcaica da cultura chinesa, que cresceu lógica e organicamente a partir dos instintos mais profundos. Tudo isso é para nós inacessível e inimitável.
A imitação ocidental é trágica, por ser um mal-entendido que ignora a psicologia do Oriente. É tão estéril como as escapulidas modernas para o Novo México, para as ilhas beatíficas dos Mares do Sul, ou para a África Central onde o homem culto pode brincar de ser "primitivo", a fim de fugir disfarçadamente de suas tarefas imediatas, de seu Hic Redox hic salta. Não se trata de macaquear o que é visceralmente estranho a nós, ou de bancar o missionário, mas de edificar a cultura ocidental que sofre de mil males; isto deve ser feito, no entanto, no lugar adequado, em busca do autêntico europeu, em sua trivia-lidade ocidental, com seus problemas matrimoniais, suas neuro-ses, suas ilusões político-sociais e enfim com sua total desorientação diante do mundo.
Seria melhor confessar que não compreendemos este texto esotérico, ou então que não queremos compreendê-lo. Acaso não pressentimos que uma tal colocação anímica, que permite olhar fundo e para dentro, desprendendo-se do mundo, só é possível porque esses homens satisfizeram de tal modo as exigências instintivas de sua natureza, que pouco ou nada mais os impede de ver a essência invisível do mundo? E acaso a condição de possibilidade da libertação desses apetites, dessas ambições e paixões que nos detêm no visível, não reside justamente na satisfação plena de sentido das exigências instintivas, em lugar de uma repressão prematura determinada pela angústia? E não se liberta o olhar para o espiritual quando a lei da terra tiver sido obedecida? Quem conhecer a história dos costumes chineses ou então o I Ging através de um estudo minucioso saberá que esse livro sapiencial impregnou o pensamento chinês há milhares de anos. Alguém assim preparado não deixará de lado tais questões. E compreenderá também que as idéias do nosso texto não representam algo de extraordinário para a mentalidade chinesa, mas são conclusões psicológicas inevitáveis.
Nos primeiros tempos da cultura cristã a que pertencemos, o espírito e a paixão do espírito eram pura e simplesmente os valores positivos pelos quais valia a pena lutar. Só no ocaso do medievalismo, isto é, no decorrer do século XIX, quando o espírito começou a degenerar em intelecto, surgiu uma reação contra o predomínio insuportável do intelectualismo; cometeu-se então — o que é perdoável —, o erro de confundir intelecto e espírito. Este último foi então acusado pelos delitos do primeiro (KLAGES). Na realidade, o intelecto apenas prejudica a alma quando pretende usurpar a herança do espírito, para o que não está capacitado de forma alguma. O espírito representa algo de mais elevado do que o intelecto, abarcando não só este último como os estados afetivos. Ele é uma direção e um princípio de vida que aspiram às alturas luminosas e sobre-humanas. A ele se opõe o feminino, obscuro, telúrico (Yin), com sua emocionalidade e instintividade que mergulham nas profundezas do tempo e nas raízes do continuum corporal. Tais conceitos representam, sem dúvida alguma, concepções puramente intuitivas, mas indispensáveis se quisermos compreender a essência da alma. A China não pôde prescindir dessas concepções, pois tal como demonstra a história de sua Filosofia, nunca se afastou dos fatos centrais da alma a ponto de perder-se no engano de uma supervalorização e desenvolvimento unilaterais de uma função psíquica isolada. Por isso mesmo nunca deixou de reconhecer o paradoxo e a polaridade de tudo o que vive. Os opostos sempre se equilibram na mesma balança — sinal de alta cultura. Ainda que represente uma força propulsora, a unilateralidade é um sinal de barbárie. A reação que se iniciou no Ocidente contra o intelecto e a favor do eros ou da intuição constitui, na minha opinião, um sintoma de progresso cultural e um alargamento da consciência além dos estreitos limites de um intelecto tirânico.
Longe de mim a intenção de menosprezar a enorme diferenciação do intelecto ocidental. Comparado a ele, pode-se dizer que o intelecto oriental é infantil (sem que isto tenha algo a ver com inteligência!). Se conseguíssemos elevar outra função, isto é, uma terceira função anímica à dignidade que, entre nós, se atribui ao intelecto, o Ocidente poderia ter a esperança de ultrapassar consideravelmente o Oriente. É lamentável, portanto, que o europeu se renegue a si mesmo para imitar o oriental, afetando aquilo que não é. Suas possibilidades seriam muito maiores se permanecesse fiel a si mesmo e se desenvolvesse a partir de sua essência tudo o que o Oriente deu à luz no decurso de milênios.
Em geral, sob o ponto de vista irremediavelmente exterior do intelecto, é como se ignorássemos o valor daquilo que o Oriente tanto aprecia. O puro intelecto não apreende a importância prática que as idéias orientais têm para nós, motivo pelo qual pretende classificá-las como curiosidades filosóficas e etnológicas. Tal incompreensão vai tão longe que os próprios sinólogos ignoram o uso prático do I Ging, considerando este livro uma simples coletânea de fórmulas mágicas e abstrusas.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Toda minha dor...


Se toda minha dor fosse dita...

Se toda minha dor fosse sentida...

Se toda a minha dor fosse escrita...

Se toda minha dor fosse traduzida...




Não haveria um dia com vinte quatro horas


Não haveria alma para suportá-la


Os livros seriam impressos em gotas de lágrimas e ninguém terminaria sua lida


Você, para ler meu livro, teria que aprender a língua de um ser que vive como se habitasse com anjos

Mas que ainda não sabe perceber se os dentes que lhes mostram são sorrisos ou inimigos

Eu ainda confundo "sede da alma" com "sede de alma..."...

Entenda quem teve sua alma deslocada....

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Estou remando...


Estou remando mar a dentro

Não tenho bússolas, sou atrevida demais para deixar com que me guiem

Estou nadando e vejo O brilho

O conhecimento vem no mar bravio com sons novos e outros atavios...

Estou compulsivamente cansada e relutante

Não tenho todos os livros e informações que quis e ainda ouço novos rumores

Quanto mais remo o conhecimento se distancia de mim

Teimoso que é....esse desconhecido ansiado....

Como se fosse uma folha de ouro enciumada que não quer entregar-se ao olho de um só

Estou remando e em vertigens admito:

“não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne.” Eclesiastes 12:12

Mas não me contento....

ainda estou remando....

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um anseio que não tem nome nem fim


Às vezes sou fisgada por um anseio que não tem nome e nem fim

Ele se liga a um monte de questões que me perturbam e perambulam sem cessar

Uma parte de mim tem nome e sobrenome, outra está em silêncios inominados

Não sei como desato esses nós

Eles me surpreendem num dia cheio de alegria.

Vem questões não sei de onde

Essa imensidão de subjetividade me enche e esvazia com a mesma força

E ainda ando pensando se a idade, já de trinta anos, não levará esses sentidos para longe?!

Por enquanto, o dia e o passo, passam....E seguem seu canto:

Ah Vida Plena e Vazia, repleta de um monte de “não sei’s”....

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O caminho e seus assaltos...


Se você fosse assaltado no meio do caminho?

Se a força para voltar fosse tão pequena quanto a para continuar?

O que você faria?

Sentaria até reaver o fôlego?

Teria medo de novos assaltos?

Tudo isso, simplesmente, não importa.

Não somos consultados.

O insulto serve para adormecer nossos calos e, simplesmente, caminhamos.

Não porque somos “super seres”, mas porque não nos trajamos de quietismo.

Às vezes caminhamos por caminhar, imprecisos e preciosamente fugindo, mas estamos indo...

Quem sabe, um dia chegamos, ou apenas saímos do lugar.

Não importa se andarmos em círculos, os passos estão sendo dados na areia do tempo...

O vento nos faz vertiginar e apaga todas as pistas...

Salvo aquelas que ouvimos, as experiências que tivemos..Lá estão, encasteladas em imaginários –indestrutíveis...

Mesmo assim, mas não irrefletidamente, andamos...é o imperativo da vida, dentre outros...

Agora ouço Pedro: “Para onde irei...?”...