segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Palavras, onde estão seus pés mesmo!? (Ou: Da interpretação "ao pé da letra").

As palavras ficavam se escondendo

Alguns diziam que as receberam dos seus pés
"ao pé da letra" 
era como traduziam tudo

Mas a corrida era de tantos pés e por tantos lados - que eu ficava me  questionando:
Em quais pés tinham caído!?

Outros diziam que beberam de seu espírito
"o espírito da letra diz isto…."
Eu ficava tentando desvendar o mistério de tantos espíritos soprarem tantas lições diversas

A palavra é gaveta
A palavra é algema
A palavra é flor de mil aromas

E
Ao mesmo tempo
A palavra é nada!

Só vê nela gaveta quem admite sua parte em construí-la
Só a vê como algema quem compromete-se com ela seguir
Só percebe seus mil aromas quem tem a humildade de perceber os mil jardins plantados pelo Deus das infinitas coexistências

Gastam tanta tinta,
Mas a Palavra é uma dependente!

Ela insinua 
acena
de soslaio media

Esse caldo apressado que os hermenêutas bebem e nos querem oferecer
Esse cipoal de dogmas e validações: a pressa de silenciar a palavra

O Poder de Dizer…

Meu Deus!!!

Perderam o sintoma positivo do perder o sintoma do "achado"

A palavra não se descobre: se inventa
A palavra não se interpreta como os gregos, nem como os hebreus, nem como os… ah, não se interpreta com esquemas de compreensão de terceiros
A palavra se bebe - seja quem tem sede, ou quem a despreza

A Palavra não se domestica
A palavra não se diviniza
A palavra não abre portas

A palavra, num abre e fecha, ventila e aquece a alma 

A palavra é uma brincante
A palavra é uma vista
A palavra é uma cria: que chora, berra e sinaliza...


Não vês A palavra!
refletes...
.
..
...

Escrevo agora este texto depois de QUATRO DIAS incríveis e desafiantes com a palestra do Dr Rui Luis Rodrigues. (Doutor em História pela USP), cujo tema: INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, aqui na Betesda Sede - FORTALEZA/CE.  

Ele tem twitter - recomendo!  

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Vai, pássaro em gaiola! Tenta...!




Vai, pássaro em gaiola!
Tentar insurgir um caminho novo!
Vai e tenta passar pelo menos entre as portas!
Vai! Vê o que te prende e morre de tentar romper
Vai!
Que as penas te sejam presas e já não mais auxílio – pesas nisto crer

Vai, mesmo sem saber, o sabor, de onde andas

Vai, pássaro inteiro! que perturba a mente com as fraturas que não existem,
Vai, pássaro que teme o estilhaço!
Vai! Despedaça teu viver!

Houve dias que pensava – dias que não voltarão jamais!
Houve dias que dormia – não era preguiça era medo de existir
Houve dias que pensou em lançar-se contra a gaiola e explodir com ela
Houve tantos dias – e o que você fez neles, pássaro intacto?!

Há um rastro de luta em tua gaiola?!
As feridas evitadas evitaram a luta explosiva do lado de dentro!?

Vê?! Nem tudo é mero passo – há descompasso quando não se sabe ver o viver!

Eu ainda vejo 
Urnas
Depositando esperanças
Rios
Despejando vidas – Gastando andanças

Vertigens
Força grave – gravidades

Lutas
Intensas

Fugas
Imensas

Queria dedilhar agora um som que fizesse a gaiola abrir
Mas o que trago?!
Outras gaiolas ao devir

É que a esperança da chave que abra as gaiolas que nos metemos e que vida nos trancafia é, por vezes, traiçoeira:
“A esperança é a última a morrer.” Diz-se. Mas não é verdade. A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassínio espectacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro.”Mia Couto.

Queria que, sempre, aqui as palavras fossem sentidas, mais que percebidas
Que fossem moídas, mais que lidas
Fossem comidas – do caule à flor dos aromas!

Era a vertigem. Um atordoamento, um insuportável desejo de cair. Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa própria fraqueza mas não queremos resistir a ela e nos abandonar. Embriagamo-nos com nossa própria fraqueza, queremos ser mais fracos ainda, queremos desabar em plena rua, à vista de todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão.” (Kundera, 2001, P.74).

Dá tontura só de ler este texto
Mas é esse o sentimento que estou a descrever!

Não traço aqui um dicionário léxico sobre esperança
Aqui faço menção de um  “rio léxico” que corre nos sentidos de quem sente VERTIGENS


Há janelas que podem ser CRIADAS, outras que não!
Há esperanças que podem morrer, outras que nascem falecidas!
Mas
a alma sempre pedirá a LUTA
Sinta o momento e perceba que não és SUPER, SUPRAHUMANO
A gaiola que te prendeu a alma pode não ter chave: se eu fosse você eu daria minha vida e morreria tentando...


Vertigens são gaiolas que queremos nos prender!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sonhos Móveis...


Eu tenho
 sonhos móveis

Sonhos que servem para me mover
Sonhos que apenas não tem serventia
são Sonhos de mero sonhar

Poucas vezes sei diferenciar um do outro
Mas, continuo 

O sonho que me veio nos últimos dias foi o de 
VOAR DE BALÃO!

Você já viu como fica LINDO, assustadoramente, o céu, com aquelas gotas invertidas de cores?!

Lindo demais!

Eu queria me juntar - um pingo a mais - no quadro móvel: 
É! 
Mais um Sonho móvel…

O engraçado desses sonhos móveis é que eles fazem sorrir - dão uma certa sensação de que a vida vale a pena:
O trabalho vale o suor
O estudo vale a loucura de devastar livros num linha quase infinita


Aquele quadro: O BALÃO NO CÉU - CHEIO DE OUTROS BALÕES
Gera um sentimento inexplicável - sem definição

Não falo de sonho como quem alimenta apenas desejos
explico: Não sou afeta à consumismos, acho triste a escravidão moderna: seguir o padrão de ter o novo, experimentar ineditismos, novidades tecnológicas mil...

Falo de viver com olhos em algo BELO!
Falo de viagens  - não pelo viajar
É como se o viajar fosse apenas a coagulação de todo um processo
Mas "o viajar" não diz tudo…

Por este motivo, fotos falam pouco
Por este motivo, palavras menos ainda
Só o Sonho fala sobre os Sonhos
Só quem ainda sonha entende a linguagem do sonhar

Eu vou aqui carregando imóveis - mas contando com o ânimo do meu móvel sonhar

Eu vou ter ainda
Sonhos móveis
que movam tudo
e desviem a ordem do céu 
e Desfaçam a órbita da rotina dos imóveis - tudo isto, no meu móvel Sonhar

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

“Es atmet mich”! (Isto me respira...!)


É preciso desejar ler muito, ler mais, ler sempre.
Assim, já de manhã, diante dos livros acumulados sobre a mesa,
Faço ao Deus da leitura a minha prece:
“a fome nossa de cada dia nos dai hoje...”. (BACHELARD, 2009, p. 26)



Andei relendo alguns textos meus
Admito que é meio sofrível
É que tenho mania de pensar por insight
E não gosto de reavaliar o já posto – postado?!

Mas, fazendo esta travessia
Notei que uma das expressões linguísticas que mais uso é a do:
“signo”.

(Quando falo signo, antes, vale avisar qualquer desavisado, não lido com a mística da astrologia, descreio em absoluto das previsões de jornais e revistas e mapas astrológicos – acho-os, sinceramente: insanos!)

Signo é uma linguagem compreensiva que remete a um espaço de construção simbólica de uma linguagem

A poesia é cheia de signos
A prosa também
A filosofia lida com os motivos, causas, conexões destes..
A teologia então, sem precedentes!

Ora, e eu que sou filha da filosofia
Neta da poesia
Bisneta da teologia
Como me veria sem os “signos”!?

Então, para um esforço de construção de uma lógica para leitura solitária de alguns poucos que ainda teimam em ler meus textos
Hoje quero trazer um breve escorço teórico sobre os “signos”

Primeiro, o que diz a filosofia sobre eles:
“latim: signum, alemão Zeichen). Qualquer objeto ou acontecimento. Esta definição é generalíssima e compreende a noção de Signo como qualquer possibilidade de referência. [...]”(ABBAGNANO. Dicionário de filosofia. p.894)

É tão importante que se saiba o que é ter uma compreensão por meio dos signos!

Os signos?!
Eles estão postos: como dito acima em: “Qualquer objeto ou acontecimento”
Sua função é limitada – condicionada – à alma do observador
Mesmo assim, devotado ao observador
O signo se desprende – empreende – faz (ultra)passagem

Se a noção da leitura não apenas da poesia, filosofia, teologia e etc
Rumasse no sentido “simbólico”
Da análise das raízes, por exemplo, da fala do outro
Faríamos travessia no sentido compreensivo do outro

Explico: Veio e gritou horrores.
Ela foi e silenciou depressa.
Ele, inquieto, rumou e perguntou o motivo.
Ela disse que entendia, que via por trás de toda aquela gritaria

Viu!?
Até na fala há signos!

Signo é uma forma de elaboração e compreensão dos sentidos

A linguagem é um dos signos mais belos da humanidade
Não entendo o porquê de, em Gênesis, a bíblia remeter à ela o atrapalho da humanidade
Mas concordo no que o Senhor disse:
“E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.”(Capítulo 11 do Gênesis)

A compreensão da linguagem do outro é a ferramenta mais poderosa!

Por este motivo, o chamado “dom da palavra”, a “retórica” tão venerada pelos gregos, é um instrumento tão eficaz!

O signo que eflui das palavras lidas é o metal mais precioso sobre a terra!
Fico garimpando-o como se lá tivesse tudo
Mas, admito, os signos dependem do que exista em mim

É como se fosse possível a alquimia: a transformação de coisas brutas em ouro – um outro

Se você conseguisse entender o que aqui proponho leria este excerto de uma forma mais delicada:

“A última coisa que eu prometeria seria melhorar a humanidade. Eu não construo novos ídolos, os velhos que aprendam o que significa ter pés de barro. Derrubar ídolos (minha palavra para ideais) – isso é o meu ofício.”. (Nietzsche, 2001, p.18).

Se você leu este trecho e saiu com dois discursos – infelizmente, perdeu o poder do signo:
Primeiro discurso: Isto é um absurdo! Ideais são necessários! Autor infeliz! (E, sem perceber, perde a poesia do escrito...)
Segundo discurso: Isto mesmo! Ídolos são mesmo para serem destruídos! ( e nem percebe que, ao fazer esta afirmação, acaba construindo um outro...).

Queria te propor uma releitura
Da vida
Da leitura
Do outro
Do dia...
Enfim

Queria que dissesse a cada manhã
Ante cada signo:
“Es atmet mich”!!!!


A expressão alemã Es atmet mich, literalmente “isto me respira”. Noutras palavras: o mundo vem respirar em mim, eu participo da boa respiração do mundo, estou mergulhado num mundo que respira. Tudo respira no mundo.”. (BACHELARD, 2009, p.172)

O signo é uma respiração que dá sua continuidade dentro de nós.

O ar que se respira fundo!
A algema que livra da liberdade - e liberta

O signo faz  feliz pelo tão só Signo de Respirar - que é bem mais que a operação mecânico-física:

"Ar que respiro a fundo
Tanto sóis o fazem denso
E, para mais avidez,
Ar onde o tempo se respira.
Eu respiro, eu respiro
Tão fundo que me vejo
A gozar o paraíso
Por excelência, o nosso.".(SUPERVIELLE, Jules, p.122).

Basta que olhemos com acuidade
Que vivamos de verdade
E brindemos a novidade!

Basta que a fala seja início
E o instante não mais precipício.

Basta que nada mais baste
Até que tudo nos silencie
E o céu retire a lágrima – e a colha - Sem-fim: sem meio ou início

O signo é semente – cujo solo só existe... como signo!

E aí?!
Vais semear?!