quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Os totens e a compreensão do homem como "homo sapiens demens" em Edgar Morin.


A história dos Totens nunca foi, para mim, tão significativa
Edgar Morin é o causador disto
Explico: lendo uma de suas obras, ele disparou um exemplo que me deixou em estado de Zênite

Assim ele dizia:
Nesse momento, projetamos sobre o outro nossa necessidade de amor, fixamo-lo e o endurecemos, ignoramos o outro, transformando-o em nossa imagem e totem. Efetivamente, aqui reside uma das tragédias do amor: a incompreensãoo de si e do outro. Mas a beleza do amor, que reside na interpenetraçãoo da verdade do outro em si, implica encontrar sua verdade através da alteridade.”. (MORIN, Edgar, 2010. p. 31)



O estado de projeção – de expectativa de tipos ideais
Um expectativa tão grande que se despreza o espectador

O estado de submissão à estes tipos – que, de tão perfeitos, não cabem na realidade do mundo
Se cria um mundo de nuvens  - nuvens que sejam perfeitas - só se for em outro céu!

Deste estado eu peço: transição!
Travessia
Ultra(passagem)

Veja o perigo: ao desenhar na figura do amor um TOTEM - podemos ignorar, desprezar, o real - por não adequar-se ao IDEAL. 

Deste desprezo por incompatibilidade com o MODELO, pululam mil frustações tanto no adorardor do Totem quanto no adorado que, sabe, não tem nas veias nuvens, mas sangue inquieto

Quando li isto, lembrei que há TOTENS por todos os lados - e as propagandas deles (em livros de autoajuda, psicologias e terapias mil, ...) só aumentam!

Há que haver uma forma de tapar os ouvidos da alma para este Estado de fabricação de humanidades perfeitas – mal sabidas

Falo com diversas pessoas, na verdade, mais ouço do que falo

E fico assustada com a quantidade de ênfase que hoje se dá nos modelos:
“qualidade de vida”;
“viajar e conhecer o mundo”;
“constituir família de sorrisos dignos de posts em redes sociais”;
“abrigar mil roupas e acessórios dez mil”

E paro a lista por aqui porque já me canso

E eu não estou alheia à este Estado de “Totens”

Ah, ia esquecendo!
Preciso definir aqui o que Edgar Morin pretendia tratar quando sinalizou o signo do “totem”. Totem é a representação do sagrado no plano terreno – uma imagem espelhando a perfeição. Uma projeçào de perfeição que lançamos no outro.

Edgar Morin, na citação que fiz acima, nos ensina, com extrema franqueza, como idealizamos o amado no tipo ideal que criamos sobre o AMOR – esta ideliazação é tão intensa que “totemizamos” o outro. 
Consequências naturais disto: esperamos demais, sonhamos mais ainda, e, nisto tudo, começamos a construir muralhas de decepções – o santo é de barro e mal pode chegar a ideia de ser AMADO sendo quem é: “Por isso, o amor talvez represente nossa religião e nossa doença mental mais verdadeira!”(MORIN, Edgar, 2010, p. 30).

Uma das teses mais interessantes de Edgar Morin é a coexistência, no ser humano, de duas naturezas que se implicam: o homo sapiens, e o homo demens. 
Ou seja, a mesma porção que temos de sabedoria-beleza-racionalidade, temos também de uma frágil loucura-desvio. E, para isto, não há idelização que vença: somos seres ambivalentes, paradoxais – de limbos diversos

Contudo,
essa mania que temos de idealizar não é de toda ruim.
Muito pelo contrário!
É desta forma de construção para além do cotidiano que experimentamos as travessias

Mas, e enfatizo isto, se nos tornarmos religiosos dos Totens que criamos – sejam eles dos mais diversos: AMOR, FELICIDADE, PAZ, BELEZA, REALIZAÇÃO PESSOAL, ...
Nos faremos adoradores da própria (des)ilusão!


E olha que absurdo: curvados adorando, 
Em pé, quando enfrentando a fria realidade, brigando consigo e com tudo – o modelo falhou!

Sim!
Modelos existem!
Mas falham!

A felicidade, paz, amor, realização e etc, não poderão suprir nenhuma forma
“totêmica” de plenitude, perfeição divina – 
tudo aqui claudica!

Fique certo de um fato: você e eu vamos CHORAR, SORRIR, ABRAÇAR, ABANDONAR, CONQUISTAR, PERDER, VENCER, SONHAR, DESILUDIR, CRER, DESCRER....


Mas, tenha sempre uma vida de felicidade possível - por seres e saberes quem és!
Não é pelo TER
Não é pelo QUERER
É pelo SER

Pensa nisso
Compreende isso
E tenha um Feliz Dia - quando ele ruim ou bom - apenas por seres e saberes QUEM ÉS!


Feliz Dia para Quem É - (Pessoa, Fernando.)

"Feliz dia para quem é 
O igual do dia, 
E no exterior azul que vê 
Simples confia! 

Azul do céu faz pena a quem
Não pode ser
Na alma um azul do céu também
Com que viver

Ah, e se o verde com que estão
Os montes quedos
Pudesse haver no coração
E em seus segredos!

Mas vejo quem devia estar
Igual do dia
Insciente e sem querer passar.
Ah, a ironia

De só sentir a terra e o céu
Tão belo ser
Quem de si sente que perdeu
A alma p’ra os ter! "

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O escorregão....


O escorregão!
Pronto, assim mesmo será definido: o escorregado!



O

C
A
Í
D
O
!


Esse arranjo sobre Deus ainda pulula - esperneia

Parece que querem ver o céu derrubar seus anjos dia a dia

Parece que a queda é a instância primeira do Deus que cria: sua primeira e única opcão

Parece, apenas parece


Quando ouço -  às margens de algumas igrejas (porque não me sinto mais filidada a nenhuma) – essa vociferação pela instância do empurrão, eu fico assustada


E me pergunto:
"Haverá alguém no céu além de Deus?!"


Porque se só o Perfeito é tolerável, "só e somente só", Deus estará reduzido a um monólogo absoluto - cartesianamente recluso em si...

O além e o aquém; contudo, confusos, disparam: A metáfora da queda de lúcifer e, depois, a queda de Eva e Adão - são sinais de um "Deus" que empurra sem rubor!? 

Só que a Bíblia traz um novo escorregão: o de Deus!
Sim!
Deus escorregando de seu trono absoluto - vindo  - O Bem-VindO!

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.
Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;"

(Filipenses 2:5-9)...

A pergunta que escorregadamente me observa é:

“Temos que escorregar para aprender a andar?!”...

Se a resposta for afirmativa: andar pressupõe a queda - assim como esta àquele...

Deus nos fala e ensina em três níveis:
1) Na metáfora da queda de lúcifer: Ele, de seu trono, sonda o pensamento e determina a queda eterna do mesmo e de outros anjos aliados a ele;
2) Na metáfora da queda no Jardim do Éden: Deus anda pelo Jardim, na viração do dia, no pôr-do-sol, para ouvir Adão e Eva e sua rotina em um jardim ideal intocável...

Nem a perfeição do Céu
Nem a perfeição de um Jardim
conseguiram saciar a sede da criatura pela ambivalência -  -  - distração, foco, beleza  - -  -


3) E o terceiro - Só em Cristo - o escorregão de Deus

Sua decisão por DESCER
ESVAZIAR-SE
E o escorregão produz em nós esse sentimento: VAZIO

Ele veio!
Seja Bem-vindo Senhor!
Esta nossa terra de belezas e contrastes
Céus arranhados e estrelas pontiagudas
Aqui
Não há mais terreno seguro - nem céu, nem Éden

Ele veio!
E ao chegar aqui não ficou discutindo contrastes
Não saiu empurrando: curou enfermos de todas as doenças - menos da hipocrisia, parece que essa é a tradução perfeita da blasflêmia imperdoável


Muitos,
 no lugar de Jesus,
chegariam aqui cantando a FAMOSÍSSIMA "Canção do Exílio"


"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."


Mas
Ele
Não!

Ele via beleza em nossos pássaros
Salvação e louvor perfeito em pequeninos
Fé exemplar em soldados
Pureza em samaritanos...

Estamos aqui: Jesus e nós - reféns da contigência da vida, em cada dia
Sem canções de exilados - que ousam refugiar-se na alienação de que só o céu é lugar para andar com Deus..

Eu tenho muito medo do futuro de jovens sem prumo – sem qualquer aliança com valores pelos quais valha uma vida mais idealizada, menos pragmática...
Mas também temo, e muito, os outros jovens, adultos e crianças, lançados no hall de Igrejas que pregam um Deus que nos cria para nos jogar ladeira à baixo...

Eu não sei você
Nem sei se alguém me lerá
Não importa (Eu escrevo como cantam os passarinhos: para anunciar dias e noites para os céus!)..
Mas eu não vejo mais Deus como aquELE que ama dar empurrões...

Eu queria reeditar sua visão desse Deus escorregadio – que espera só um deslize para te por inferno à dentro

Eu queria lembrar do absoluto destempero que Ele teve com a absoluta condenação humana

Eu queria que retivesse a figura de um Deus encarnado
Não reencarnado – para não fazer da vida presente despicienda
A figura de um Deus ferido, pobre, humilde, santo – por ser humanamente incrível!

Eu queria que soubesse que Ele chorou quando perdeu um amigo
Eu queria que soubesse que Ele foi perseguido e pobre desde o berço
Eu queria que soubesse que Ele preferiu andar com pecadores dos mais descabelados
Eu queria que soubesse que ele assumiu a pena capital da forma mais desumana que o  Império Romano aplicava
Eu queria que soubesse que Ele não teve direito à ampla defesa, advogado, nem a qualquer Tribunal justo
Eu queria que soubesse que Ele foi traído por um amigo que Ele mesmo escolhera para estar do seu lado
Eu queria que soubesse que Ele não guardou ressentimento, mas beijou a Judas como que despedindo sua alma daquela prisão que o enforcaria
Eu queria tanto que o mundo inteiro soubesse disso!

Quando você estiver se sentindo escorregado pela vida
Lembra que é por isso mesmo que Ele veio: para amar e salvar os que se achavam perdidos...


Para apontar esse Deus que não tem apetites por procurar escorregões
Indico esta preciosa reflexão sobre a Graça, ministrada pelo Amigo Músico Pastor Márcio Cardoso - foi ouvindo esta mensagem que escrevi o texto acima. Por este motivo a compartilho:

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Outra Carta ao Pai....





Pai,
Que a mesa dividiu por não saber tecer os dias com o todo

Pai,
Admitir que temos calos conjuntos
Que não apenas apanhei, mas que também bati! Ah, como é difícil!

Pai,
Que neste dia esqueçamos o que nos fez estranhos e
Que estranhemos o que nos fez esquecidos

Pai,
Como queria que tudo fosse sempre o mais simples – como o simples abraço
Como queria que a história só tivesse caminho feliz

Pai,
A história eu não sei,
Mas nosso fim será melhor que antes
Hoje somos amigos, que ora aproximam, ora quedam  - distantes

Mas, Pai,
Nem dez milhões de pessoas ousariam tocar no senhor sem que eu colocasse meu corpo adiante

Pai,
De ti eu vim também
E nós nunca seremos totalmente outros
Somos também um - no outro.... 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

As cores da Esperança....



Ela sentia dedos passarem em suas costas
Subiu um calafrio
Ela estava só, em casa
De quem seria aquela mão?!


As dores que até então sentia pareciam ser aliviadas
De alguma maneira aquele momento parecia um arco sobre o céu

Sem mais, ela aquietou o olhar
Permaneceu de costas
O que sentia era mais intenso que sua angústia de sondar

Mas momentos de descanso não costumam durar muito
E, como de costume, aquele sumiu

Agredia as paredes com gritos
Afrontava as cores tranquilas do quarto e dizia:
“Seja quem for, não teve graça chegar assim, inominado, indiscreto, me fazendo sentir algo que alivia e depois sumir assim – sem fala...”

Ela não viu ou ouviu nada - nenhum som de resposta

Um choro inexplicável parecia cair em terra semeando novo chão
Aquela nova mulher parecia de coração envelhecido – quase petrificado

Tinha tanto choro calado
Tinha tanta mágoa escondida
Tinha tanto e tanta falta lhe (ex)istia...

Ela ali só
Nem podia ver a casa grande que morava
Sempre cheia de familiares e amigos

Mas
Ela ali só
Só morava
Era o que parecia

Ainda de olhos marejados
Arrumou lugar seco para dormir um pouco

De olhos fechados, aquele momento foi ganhando cor

Ela viu a esperança nos olhos
Dizem que a esperança é de uma só cor
Ela me disse que não

Era um arco de cores: um arco de feixes de luz

Ela mentia e mentiu por anos:
“Já não moras em mim! Deixei-te há anos! Viraste adágio, conto do vigário! Melhor seguir sem ti”.

Isso tudo porque achava que a Esperança era uma forma de revirar o mundo

Não!

A esperança de mil cores lhe disse:
“Sou a forma de rever o que há. Por isso possuo tantas cores e medidas quantas forem necessárias – sou a maneira mais aguda de redefinir a vida...”

Pausou aquela fala
Escreveu na mão direita daquela menina

Uma tatuagem memorial
Um signo de rever a vida por um viés em que a Esperança não seja a mágica de fazer as coisas darem certo, mas de nos levar por caminhos que vencem certos e errados caminhos...

Aquela menina acordou com a mão doendo
Parecia uma tatuagem sobre a mão

Lá estava escrito:
“Os dedos que passaram sobre você foram teus.
Como?!
Só haverá o que não há quando você for capaz de sonhar com isto.
A esperança é tudo que há em nós, mas que só conseguimos ver se refizermos os sentidos. 
Quando a vida te for incolor,
Lembra, menina, dos olhos multicoloridos da Esperança...”