terça-feira, 1 de outubro de 2013

OS TEÓLOGOS (Por: Jorge Luís Borges).


OS TEÓLOGOS

Arrasado o jardim, profanados os cálices e os altares, entraram a cavalo os hunos na
biblioteca monástica e rasgaram os livros incompreensíveis e os injuriaram e queimaram,
talvez temerosos de que as letras encobrissem blasfêmias contra seu deus, que era uma
cimitarra de ferro. Arderam palimpsestos e códices, mas no coração da fogueira, entre as
cinzas, permaneceu quase intato o livro duodécimo da Civitas Dei, que narra que Platão
ensinou em Atenas e, no fim dos séculos, todas as coisas recuperarão seu estado anterior, e
que ele, em Atenas, diante do mesmo auditório, de novo ensinará essa doutrina. O texto
que as chamas perdoaram desfrutou de veneração especial e os que o leram e releram
nessa remota província esqueceram que o autor só declarou tal doutrina para poder melhor
refutá-la. Um século depois, Aureliano, coadjutor de Aquiléia, soube que às margens do
Danúbio a novíssima seita dos monótonos (chamados também anulares) professava que a
história é um círculo e que nada é que não tenha sido e que não será. Nas montanhas, a
Roda e a Serpente tinham deslocado a Cruz. Todos temiam, mas todos se confortavam
com o boato de que João de Panonia, que se distinguira com um tratado sobre o sétimo
atributo de Deus, ia impugnar tão abominável heresia.

Aureliano deplorou essas notícias, sobretudo a última. Sabia que em matéria teológica não há novidade sem perigo; depois refletiu que a tese de um tempo circular era demasiado dissímil, demasiado assombrosa para que o perigo fosse grave. (As heresias que devemos temer são as que podem confundir-se com a ortodoxia.) Mais lhe doeu a intervenção – a intrusão – de João de Panonia. Havia dois anos, ele usurpara com seu palavroso De Septima Affectione Dei Sive de Aeternitate um assunto da especialidade de Aureliano; agora, como se o problema do tempo lhe pertencesse, ia retificar, talvez com argumentos de Procusto, com triagas mais temíveis que a Serpente, os anulares... Nessa noite, Aureliano folheou o antigo diálogo de Plutarco sobre a cessação dos oráculos; no parágrafo vinte e nove, leu uma burla contra os estóicos que defendem um infinito ciclo de mundos, com infinitos sóis, luas, Apolos, Dianas e Poseidons. O achado pareceu-lhe prognóstico favorável; resolveu adiantar-se a João de Panonia e refutar os heréticos da Roda.
Há quem procure o amor de uma mulher para esquecer-se dela, para não pensar mais nela; Aureliano, da mesma forma, queria superar João de Panonia para curar-se do rancor que ele lhe infundia, não para fazer-lhe mal. Temperado pelo mero trabalho, pela construção de silogismos e pela invenção de injúrias, pelos nego e os autem e os nequaquam, pôde esquecer esse rancor. Erigiu vastos e quase inextricáveis períodos, entrecortados por incisos, em que a negligência e o solecismo pareciam formas de desdém. Da cacofonia fez um instrumento. Previu que João ia fulminar os anulares com gravidade profética; para não coincidir com ele, optou pelo escárnio. Agostinho tinha escrito que Jesus é a via reta que nos salva do labirinto circular em que andam os ímpios; Aureliano, laboriosamente trivial, comparou-os a Ixion, ao fígado de Prometeu, a Sísifo, àquele rei de Tebas que viu dois sóis, à gaguice, a louros, a espelhos, a ecos, a mulas de carga e a silogismos bicornutos. (As fábulas gentílicas perduravam, rebaixadas a adornos.) Como todo possuidor de uma biblioteca, Aureliano se sabia culpado de não conhecê-la até o fim; essa controvérsia permitiu-lhe chegar a um acordo com muitos livros que pareciam censurar sua incúria. Assim pôde engastar uma passagem da obra De Principiis de Orígenes, na qual se nega que Judas Iscariotes voltará a vender o Senhor, e Paulo, a presenciar o martírio de Estêvão em Jerusalém, e outra dos Academica Priora de Cícero, em que este zomba dos que sonham que, enquanto ele conversa com Lúculo, outros Lúculos e outros Cíceros, em número infinito, dizem exatamente o mesmo, em infinitos mundos iguais. Além disso, esgrimiu contra os monótonos o texto de Plutarco e denunciou o escândalo de que a um idólatra valesse mais o lumen naturae que a eles a palavra de Deus. Nove dias lhe tomou esse trabalho; no décimo, foi-lhe enviada uma cópia da refutação de João de Panonia.
Era quase irrisoriamente breve. Aureliano olhou-a com desdém e depois com temor. A primeira parte glosava os versículos finais do nono capítulo da Epístola aos Hebreus, na qual se diz que Jesus não foi sacrificado muitas vezes desde o início do mundo, senão agora uma vez na consumação dos séculos. A segunda alegava o preceito bíblico sobre as vãs repetições dos gentios (Mateus 6, 7) e aquela passagem do sétimo livro de Plínio, que pondera não haver no vasto universo duas faces iguais. João de Panonia declarava que tampouco há duas almas e que o pecador mais vil é precioso como o sangue que por ele verteu Jesus Cristo. O ato de um único homem (afirmou) pesa mais que os nove céus concêntricos, e imaginar que possa perder-se e voltar é uma aparatosa frivolidade. O tempo não refaz o que perdemos; a eternidade guarda-o para a glória e também para o fogo. O tratado era límpido, universal; não parecia redigido por uma pessoa específica, mas por qualquer homem ou, talvez, por todos os homens.
Aureliano sentiu uma humilhação quase física. Pensou em destruir ou reformar seu próprio trabalho; em seguida, com rancorosa probidade, mandou-o para Roma sem modificar uma letra. Meses depois, quando se reuniu o Concílio de Pérgamo, o teólogo encarregado de impugnar os erros dos monótonos foi (previsivelmente) João de Panonia; sua douta e comedida refutação bastou para que Euforbo, heresiarca, fosse condenado à fogueira. "Isto ocorreu e voltará a ocorrer", disse Euforbo. "Não acendeis uma pira, acendeis um labirinto de fogo. Se aqui se unissem todas as fogueiras que eu tenho sido, não caberiam na terra e os anjos ficariam cegos. Isto eu falei muitas vezes." Depois gritou, porque as chamas o atingiram.

Caiu a Roda diante da Cruz, mas Aureliano e João prosseguiram sua batalha
secreta. Militavam os dois no mesmo exército, ansiavam pelo mesmo galardão, guerreavam contra o mesmo Inimigo, mas Aureliano não escreveu uma palavra que inconfessavelmente não pretendesse superar João. Seu duelo foi invisível; se os numerosos índices não me enganam, não figura uma única vez o nome do outro nos muitos volumes de Aureliano que a Patrologia de Migne entesoura. (Das obras de João, só permaneceram vinte palavras.) Os dois desaprovaram os anátemas do segundo Concílio de Constantinopla; os dois perseguiram os arianos, que negavam a geração eterna do Filho; os
dois testemunharam a ortodoxia da Topographia Christiana de Cosmas, que ensina ser a terra quadrangular, como o tabernáculo hebreu. Desgraçadamente, pelos quatro ângulos da terra difundiu-se outra tempestuosa heresia. Oriunda do Egito ou da Ásia (porque os testemunhos diferem e Bousset não quer admitir as razões de Harnack), infestou as províncias orientais e erigiu santuários na Macedônia, em Cartago e em Tréveris. Parecia estar em todas as partes; foi dito que nas dioceses da Bretanha tinham sido invertidos os crucifixos e que a imagem do Senhor, em Cesaréia, viu-se suplantada por um espelho. O espelho e o óbolo eram emblemas dos novos cismáticos.
A história os conhece por muitos nomes (especulares, abismais, cainitas), mas de todos o mais aceito é histriões, dado por Aureliano e que eles com atrevimento adotaram. Na Frigia foram chamados de simulacros, e também na Dardânia. João Damasceno chamou-os de formas; é justo advertir que a passagem tem sido repelida por Erfjord. Não há heresiólogo que, com espanto, não aluda a seus desmedidos costumes. Muitos histriões professaram o ascetismo; um que outro se mutilou, como Orígenes; outros moraram debaixo da terra, nas cloacas; outros arrancaram os olhos; outros (os nabucodonosores de Nitria) "pastavam como os bois e seu cabelo crescia como as penas da águia". Da mortificação e do rigor passavam, muitas vezes, ao crime; certas comunidades toleravam o roubo; outras, o homicídio; outras, a sodomia, o incesto e a bestialidade. Todas eram blasfemas; não só maldiziam o Deus cristão como as arcanas divindades de seu próprio panteão. Maquinaram livros sagrados, cujo desaparecimento os doutos deploram. Sir Thomas Browne, por volta de 1658, escreveu: "O tempo aniquilou os ambiciosos Evangelhos Histriônicos, não as Injúrias com que se fustigou sua Impiedade"; Erfjord sugeriu que essas "injúrias" (que um códice grego preserva) são os evangelhos perdidos. Isso é incompreensível, se ignoramos a cosmologia dos histriões.
Nos livros herméticos está escrito que o que existe embaixo é igual ao que existe em cima, e o que existe em cima, igual ao que existe embaixo; no Zohar, que o mundo inferior é reflexo do superior. Os histriões fundaram sua doutrina sobre uma perversão dessa idéia. Invocaram Mateus 6, 12 ("perdoa nossas dívidas, como nós perdoamos a nossos devedores") e 11, 12 ("o reino dos céus adquire-se à força") para demonstrar que a terra influi no céu, e I Coríntios 13,12 ("vemos agora como que por um espelho, em enigma") para demonstrar que tudo o que vemos é falso. Talvez contaminados pelos monótonos, imaginaram que todo homem é dois homens e que o verdadeiro é o outro, o que está no céu. Também imaginaram que nossos atos projetam um reflexo invertido, de maneira que, se velamos, o outro dorme, se fornicamos, o outro é casto, se roubamos, o outro é generoso. Mortos, nos uniremos a ele e seremos ele. (Algum eco dessas doutrinas perdurou em Bloy.) Outros histriões discorreram que o mundo acabaria quando se esgotasse o número de suas possibilidades; já que não pode haver repetições, o justo deve eliminar (cometer) os atos mais infames, para que estes não manchem o futuro e para acelerar a vinda do reino de Jesus. Esse artigo foi negado por outras seitas, que defenderam que a história do mundo deve cumprir-se em cada homem. Os demais, como Pitágoras, deverão transmigrar por muitos corpos antes de conseguir sua liberação; alguns, os protéicos, "no termo de uma só vida são leões, são dragões, são javalis, são água e são uma árvore". Demóstenes cita a purificação pela lama a que eram submetidos os iniciados nos mistérios órficos; os protéicos, analogicamente, procuraram a purificação pelo mal. Entenderam, como Carpócrates, que ninguém sairá da prisão até pagar o último óbolo
(Lucas 12, 59), e costumavam ludibriar os penitentes com este outro versículo: "Eu vim para que os homens tenham vida e para que a tenham em abundância" (João 10,10). Também diziam que não ser malvado é soberba satânica... Muitas e divergentes mitologias urdiram os histriões; uns pregaram o ascetismo, outros a licenciosidade, todos a confusão. Teopompo, histrião de Berenice, negou todas as fábulas; disse que cada homem é um órgão que projeta a divindade para sentir o mundo.
Os hereges da diocese de Aureliano eram dos que afirmavam que o tempo não tolera repetições, não dos que afincoavam que todo ato se reflete no céu. Essa circunstância era estranha; em um relatório às autoridades romanas, Aureliano mencionou-a. O prelado que receberia o relatório era confessor da imperatriz; ninguém ignorava que esse ministério exigente lhe vedava as íntimas delícias da teologia especulativa. Seu secretário – antigo colaborador de João de Panonia, agora inimizado com ele – gozava do renome de pontualíssimo inquisidor de heterodoxias; Aureliano acrescentou uma exposição da heresia histriônica, tal como esta se dava nos conventículos de Gênova e de Aquiléia. Redigiu alguns parágrafos; quando quis escrever a tese horrível de que não existem dois instantes iguais, sua pena se deteve. Não encontrou a fórmula necessária; as admoestações da nova doutrina ("Queres ver o que não viram os olhos humanos? Olha a lua. Queres ouvir o que os ouvidos não ouviram? Ouve o grito do pássaro. Queres tocar o que não tocaram as mãos? Toca a terra. Digo, verdadeiramente, que Deus está por criar o mundo") eram bastante afetadas e metafóricas para a transcrição. De repente, uma oração de vinte palavras apresentou-se a seu espírito. Escreveu-a, jubiloso; logo depois, inquietou-o a suspeita de que ela fosse de outro. No dia seguinte, lembrou-se de que a lera havia muitos anos no Adversus Annulares composto por João de Panonia. Verificou a citação; ali estava. A incerteza o atormentou. Alterar ou suprimir essas palavras era debilitar a expressão; deixá-las era plagiar um homem que ele abominava; indicar a fonte era denunciá-lo. Implorou o socorro divino. No princípio do segundo crepúsculo, seu anjo da guarda ditou-lhe uma solução intermédia. Aureliano conservou as palavras, mas lhes antepôs este aviso: "O que ladram agora os heresiarcas para confusão da fé, disse-o neste século um varão doutíssimo, com mais irreflexão que culpa". Depois, aconteceu o temido, o esperado, o inevitável. Aureliano teve de declarar quem era esse varão; João de Panonia foi acusado de professar opiniões heréticas.
Quatro meses depois, um ferreiro de Aventino, alucinado pelos enganos dos histriões, pôs sobre os ombros de seu filhinho uma grande bola de ferro, a fim de que seu outro voasse. O menino morreu; o horror produzido por esse crime impôs uma irrepreensível severidade aos juízes de João. Este não quis retratar-se; repetiu que negar sua proposição era incorrer na pestilencial heresia dos monótonos. Não entendeu (não quis entender) que falar dos monótonos era falar do que já estava esquecido. Com insistência um tanto senil, desperdiçou os períodos mais brilhantes de suas velhas polêmicas; os juízes nem sequer ouviam aquilo que outrora os arrebatara. Em lugar de tratar de purificar-se da mais leve mácula de histrionismo, esforçou-se em demonstrar que a proposição de que o acusavam era rigorosamente ortodoxa. Discutiu com os homens de cuja sentença dependia sua sorte e cometeu a máxima grosseria de fazê-lo com talento e com ironia. No dia 26 de outubro, depois de uma discussão que durou três dias e três noites, sentenciaram-no a morrer na fogueira.
Aureliano presenciou a execução, porque não o fazer seria confessar-se culpado. O lugar do suplício era uma colina, em cujo verde pico havia uma estaca, fincada profundamente no solo, e em torno dela muitas achas de lenha. Um ministro leu a sentença do tribunal. Sob o sol das doze, João de Panonia jazia com o rosto no pó, lançando uivos bestiais. Arranhava a terra, mas os verdugos o ergueram, o despiram e por fim o amarraram ao pelourinho. Puseram-lhe à cabeça uma coroa de palha untada de enxofre; ao lado, um exemplar do pestilento Adversus Annulares. Chovera na noite anterior e a lenha ardia mal. João de Panonia rezou em grego e depois em um idioma desconhecido. A fogueira ia levá-lo quando Aureliano se atreveu a erguer os olhos. As chamas ardentes se detiveram; Aureliano, pela primeira e última vez, viu o rosto do odiado. Lembrou-lhe o de alguém, mas não pôde precisar de quem. Depois, as chamas o perderam; depois, gritou e foi como se um incêndio gritasse.
Plutarco conta que Júlio César chorou a morte de Pompeu; Aureliano não chorou a de João, mas sentiu aquilo que sentiria um homem curado de uma enfermidade incurável que já fosse parte de sua vida. Em Aquiléia, em Éfeso, na Macedônia, deixou que sobre si passassem os anos. Procurou os difíceis limites do Império, os rudes lamaçais e os contemplativos desertos, para que a solidão o ajudasse a entender seu destino. Numa cela mauritana, na noite carregada de leões, repensou a complexa acusação contra João de Panonia e justificou, pela enésima vez, o veredicto. Custou-lhe mais justificar sua tortuosa denúncia. Em Rusaddir pregou o anacrônico sermão Luz das Luzes Acesa na Carne de Um Réprobo. Em Hibérnia, em uma das cabanas de um monastério cercado pela selva, surpreendeu-o, numa noite até a alvorada, o rumor da chuva. Lembrou-se de uma noite romana em que fora surpreendido, também, por esse minucioso rumor. Um raio, ao meio- dia, incendiou as árvores e Aureliano pôde morrer como morrera João.
O final da história só pode ser narrado com metáforas, já que se passa no reino dos céus, onde não há tempo. Talvez fosse oportuno dizer que Aureliano conversou com Deus e que Este se interessa tão pouco por diferenças religiosas que o tomou por João de Panonia. Isso, entretanto, insinuaria uma confusão da mente divina. Mais correto é dizer que no paraíso Aureliano soube que, para a insondável divindade, ele e João de Panonia (o ortodoxo e o herege, o odiado e o que odeia, o acusador e a vítima) formavam uma única pessoa."( BORGES, Jorge Luís, 2009, p. 20-25). 

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Palavras, onde estão seus pés mesmo!? (Ou: Da interpretação "ao pé da letra").

As palavras ficavam se escondendo

Alguns diziam que as receberam dos seus pés
"ao pé da letra" 
era como traduziam tudo

Mas a corrida era de tantos pés e por tantos lados - que eu ficava me  questionando:
Em quais pés tinham caído!?

Outros diziam que beberam de seu espírito
"o espírito da letra diz isto…."
Eu ficava tentando desvendar o mistério de tantos espíritos soprarem tantas lições diversas

A palavra é gaveta
A palavra é algema
A palavra é flor de mil aromas

E
Ao mesmo tempo
A palavra é nada!

Só vê nela gaveta quem admite sua parte em construí-la
Só a vê como algema quem compromete-se com ela seguir
Só percebe seus mil aromas quem tem a humildade de perceber os mil jardins plantados pelo Deus das infinitas coexistências

Gastam tanta tinta,
Mas a Palavra é uma dependente!

Ela insinua 
acena
de soslaio media

Esse caldo apressado que os hermenêutas bebem e nos querem oferecer
Esse cipoal de dogmas e validações: a pressa de silenciar a palavra

O Poder de Dizer…

Meu Deus!!!

Perderam o sintoma positivo do perder o sintoma do "achado"

A palavra não se descobre: se inventa
A palavra não se interpreta como os gregos, nem como os hebreus, nem como os… ah, não se interpreta com esquemas de compreensão de terceiros
A palavra se bebe - seja quem tem sede, ou quem a despreza

A Palavra não se domestica
A palavra não se diviniza
A palavra não abre portas

A palavra, num abre e fecha, ventila e aquece a alma 

A palavra é uma brincante
A palavra é uma vista
A palavra é uma cria: que chora, berra e sinaliza...


Não vês A palavra!
refletes...
.
..
...

Escrevo agora este texto depois de QUATRO DIAS incríveis e desafiantes com a palestra do Dr Rui Luis Rodrigues. (Doutor em História pela USP), cujo tema: INTERPRETAÇÃO BÍBLICA, aqui na Betesda Sede - FORTALEZA/CE.  

Ele tem twitter - recomendo!  

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Vai, pássaro em gaiola! Tenta...!




Vai, pássaro em gaiola!
Tentar insurgir um caminho novo!
Vai e tenta passar pelo menos entre as portas!
Vai! Vê o que te prende e morre de tentar romper
Vai!
Que as penas te sejam presas e já não mais auxílio – pesas nisto crer

Vai, mesmo sem saber, o sabor, de onde andas

Vai, pássaro inteiro! que perturba a mente com as fraturas que não existem,
Vai, pássaro que teme o estilhaço!
Vai! Despedaça teu viver!

Houve dias que pensava – dias que não voltarão jamais!
Houve dias que dormia – não era preguiça era medo de existir
Houve dias que pensou em lançar-se contra a gaiola e explodir com ela
Houve tantos dias – e o que você fez neles, pássaro intacto?!

Há um rastro de luta em tua gaiola?!
As feridas evitadas evitaram a luta explosiva do lado de dentro!?

Vê?! Nem tudo é mero passo – há descompasso quando não se sabe ver o viver!

Eu ainda vejo 
Urnas
Depositando esperanças
Rios
Despejando vidas – Gastando andanças

Vertigens
Força grave – gravidades

Lutas
Intensas

Fugas
Imensas

Queria dedilhar agora um som que fizesse a gaiola abrir
Mas o que trago?!
Outras gaiolas ao devir

É que a esperança da chave que abra as gaiolas que nos metemos e que vida nos trancafia é, por vezes, traiçoeira:
“A esperança é a última a morrer.” Diz-se. Mas não é verdade. A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassínio espectacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro.”Mia Couto.

Queria que, sempre, aqui as palavras fossem sentidas, mais que percebidas
Que fossem moídas, mais que lidas
Fossem comidas – do caule à flor dos aromas!

Era a vertigem. Um atordoamento, um insuportável desejo de cair. Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa própria fraqueza mas não queremos resistir a ela e nos abandonar. Embriagamo-nos com nossa própria fraqueza, queremos ser mais fracos ainda, queremos desabar em plena rua, à vista de todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão.” (Kundera, 2001, P.74).

Dá tontura só de ler este texto
Mas é esse o sentimento que estou a descrever!

Não traço aqui um dicionário léxico sobre esperança
Aqui faço menção de um  “rio léxico” que corre nos sentidos de quem sente VERTIGENS


Há janelas que podem ser CRIADAS, outras que não!
Há esperanças que podem morrer, outras que nascem falecidas!
Mas
a alma sempre pedirá a LUTA
Sinta o momento e perceba que não és SUPER, SUPRAHUMANO
A gaiola que te prendeu a alma pode não ter chave: se eu fosse você eu daria minha vida e morreria tentando...


Vertigens são gaiolas que queremos nos prender!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sonhos Móveis...


Eu tenho
 sonhos móveis

Sonhos que servem para me mover
Sonhos que apenas não tem serventia
são Sonhos de mero sonhar

Poucas vezes sei diferenciar um do outro
Mas, continuo 

O sonho que me veio nos últimos dias foi o de 
VOAR DE BALÃO!

Você já viu como fica LINDO, assustadoramente, o céu, com aquelas gotas invertidas de cores?!

Lindo demais!

Eu queria me juntar - um pingo a mais - no quadro móvel: 
É! 
Mais um Sonho móvel…

O engraçado desses sonhos móveis é que eles fazem sorrir - dão uma certa sensação de que a vida vale a pena:
O trabalho vale o suor
O estudo vale a loucura de devastar livros num linha quase infinita


Aquele quadro: O BALÃO NO CÉU - CHEIO DE OUTROS BALÕES
Gera um sentimento inexplicável - sem definição

Não falo de sonho como quem alimenta apenas desejos
explico: Não sou afeta à consumismos, acho triste a escravidão moderna: seguir o padrão de ter o novo, experimentar ineditismos, novidades tecnológicas mil...

Falo de viver com olhos em algo BELO!
Falo de viagens  - não pelo viajar
É como se o viajar fosse apenas a coagulação de todo um processo
Mas "o viajar" não diz tudo…

Por este motivo, fotos falam pouco
Por este motivo, palavras menos ainda
Só o Sonho fala sobre os Sonhos
Só quem ainda sonha entende a linguagem do sonhar

Eu vou aqui carregando imóveis - mas contando com o ânimo do meu móvel sonhar

Eu vou ter ainda
Sonhos móveis
que movam tudo
e desviem a ordem do céu 
e Desfaçam a órbita da rotina dos imóveis - tudo isto, no meu móvel Sonhar