quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Do desentranhamento das palavras...


Há maneiras de se respirar sem soluçar qualquer som

Mas eu venho preferindo desvendar palavras – desafogar desabafos

Aqui é o lugar de meus soluços, mas já algo me encanta: aqui também foi lugar de soluções para alguns poucos leitores atenciosos que se sentiram nas fibras das linhas

Não é hora do NOVO

Aqui não há espaço para o inédito, mas para IDENTIFICAÇÃO

Se tomares qualquer gota de dor ou alegria humana – veremos ao longe ou perto – o quanto somos próximos

Agora escrevo como antes

Sem preocupações nem encantos

E que seja este meu canto:

Só nas palavras há libertação e prisão

Usemo-nas então, como quem se utiliza de óculos – com precisão, cuidado e diariamente

Sejam elas pinçadas

Como enfeites? Não!!!!,

Sejam elas âncoras ou lemes,

Que levem longe

Ou tragam de volta, mas...que sejam lançadas...

Nunca se sabe para onde elas poderão levar

Para o teu olho,

ou

tua alma?!

O rio do devir as levará

São signos desentranhados

ei-los aí... aos olhares de intérpretes queridos - conhecidos ou não

Tomo agora algumas linhas de F. Pessoa - letras que me são bandeiras tremulantes:

"Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça."

esse texto é incendiante!!!