terça-feira, 28 de novembro de 2017

Passaram álcool na existência...


A necessidade de correr risco - que poucos tem. É a alma da arte.
Ela desafia fronteiras - transgride.
Desespera - no sentido de André Comte-Sponville.

Medo nós temos, e muitos.
Já o desejo do risco nem tanto.

Fui a um festival tradicional de rock, o "Ponto.Ce"
Olhem que letra bela da Banda Canto Cego:

"Passaram álcool nas palavras
As bocas secas não conseguem argumentar
Quero coagir os covardes atrasos
Vamos reagir à hostilidades com afetos fartos."

Passaram álcool nas palavras!
Passaram álcool na existência!
A sociedade do desejo pelo status(Alain de Botton) - é a sociedade da morte do desejo autêntico.
Alain de Botton tenta até esquematizar como funciona este meme:
Covardia: o medo da desonra. O unlike que atravessa redes sociais e desmorona a beleza dos riscos e delírios.

Minha nossa: como não dizer que o risco amplia nossa esfera de existência?!

Por este motivo viver é uma arte.

Ele deveria mesmo, tentar sê-la. 

Como uma sociedade, ao mesmo tempo viciada em si, solipsista, "onfaloscopica"(Maffesoli) é também tão castrada na sede de seus desejos? 

Ela tem desejos, mas são: copiados - colados.

Isso!

Desejo de control C + control V.

Geração Colagem.

Li agora mesmo, por meio de Teixeira Coelho, que nós somos a única geração "que gosta de si mesma" - ele afirma:
"A Renascença gostava da antiguidade greco-romana; o Barroco seguiu em boa parte a mesma trilha (e os barrocos que optaram pelo presente de sua época se deram mal em vida, a única coisa que de resto conta); o Neoclássico já deixava claro em seu rótulo qual era sua refe- rência cultural, também enxergando o mundo pelo espelho retrovisor; no século 19, os que olharam para o que havia ao lado deles, naquele mesmo instante, tampouco se saíram bem num primeiro momento, assim como pelo menos a primeira metade do século 20 teve grande di culdade inicial de olhar-se a si mesma de frente:14 este século 21 é francamente um adepto e seguidor viral de si mesmo,[...]".(2015, p. 23)

A gente não arrisca mais.
Foi-se de nós o saudosismo
E com ele, aquele olhar para além-instante

Isto, sozinho, não é ruim
Mas se pressionado a se tornar um aparato "pontilhista" - (de infinitos desejos - num etecetera sem fim(Bauman)  - é preocupante....
Se alguém quiser cantar - com coração na boca - a música que citei - deixo aqui o link com essa magia inteira desenhada na capa do CD: https://www.letras.mus.br/canto-cego/contra-canto/




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