terça-feira, 24 de outubro de 2017

Valores para Política Cultural em Tempos-Matrix

“O costume é o melhor Prosac. Quando tomamos muito desse tranquilizante, estamos facilitando o trabalho dos que querem nos atar a uma Matrix.”. (WARAT, 2004, p. 11)

Vivemos a época da imagem e do consumo. Aquela como signo, e este como motor que constrói os significados. Somos a geração que consome e vende “sentidos” – Luiz Felipe Pondé chega a nomear este fenômeno de “A Era do Marketing Existencial” (PONDÉ, 2017, p. 51).  Em dias como os nossos os valores correm risco de virar mera justificativa para caber no Edital, ou no prognóstico esperado pelo Investidor/Patrocinador.
Os valores perderam seu pé semântico essencial. Ter valor é ser parte de uma potência criativa e urge voltarmos ao sentido primeiro: “É preciso reapropriar-se democrática e semanticamente de palavras como “valor” e “riqueza”, cuja raiz, reich, remete a poder criador.”.(VIVERET, 2013, p. 60). Este poder de agir pode ser apropriado como criação poética – ou se tornar uma fabricação produtivista anêmica.
Bem como o Prosac supramencionado por meio de Luiz Alberto Warat, dia a dia tomamos algo que consiga resultados para dar sentido à Matrix. Se perdermos a espontaneidade seremos mais dóceis, posto que estaremos dopados, enxergando cada vez menos além do que a realidade-obscena dita existir. Mas o vazio consumido pela permanência neste caminho será emudecedor.
Por este motivo, e para fugir de qualquer lista que produza uma “moldura mental” (HORKHEIMER, 2015, p. 112), eu quero aqui propor um layout para os meus valores: um design de signos – não de significados.


1. Layout dos valores imanentes: a. “Homo Prospectus” Projetos culturais são muito futuro – eu quero particípios: Eu queria mesmo era ser um tipo de Homo Prospectus e não Homo sapiens. Há estudos que indicam que somos menos “sapiens” do que imaginamos. Edgar Morin já vinham afirmando isto quando encerrou-nos na sentença – “somos homos sapiens-demens”(MORIN, 2010); ou seja, somos cinquenta por cento razão e cinquenta por cento desrazão. Há estudos que comprovam que nossa característica essencial não é mesmo o saber, mas o “pensar o futuro” (SELIGMAN; TIERNEY, 2017, online). A Política Cultural exige muito isto de nós – imaginar o futuro. Queria redescobrir algum canto que o futuro tenha uma voz mais serena e poética – seja signo de Futuro mesmo, não de fim. b. Os “Contos acima das Contas”: Karl Polanyi, abordando o impacto do capitalismo na sociedade, aponta como a invasão que o capitalismo mercantil causou na chamada: “Grande Transformação”(POLANYI, 2000) – o momento em que a há a mercantilização do aparato social. Portanto, fugir do olhar mercantil. Enxergar as pessoas, não apenas aquelas com comporão a produção cultural, mas as pessoas que irão consumir (se é que se pode utilizar esta palavra para arte/cultura). Não esquecer que Política Cultural é como “lâmina do arado” (COELHO, 2008, p. 18), um meio com o fim de resgatar a subjetividade – a poesia para a prosa dos dias. Enfim, um promover um “Homo Prospectus” que valorize mais os contos que as contas.

2. Layout dos valores transcendentes: a. Promover a Suspensão do tempo. Um cenário onde a hora perca o domínio, o instante seja desejado – não há atividade melhor do que aquela que nos retira do passo do Cronos. Ou seja, um mundo com menos reuniões longas que nada levam adiante – a não ser um conglomerado de apresentações enfadonhas de si e quase nada do outro; b. Afetividade - Pessoas acima de títulos e cargos: Construir encontros, tudo que for possível para quebrar o formato “reunião”; c. Técnicos que permitam ser surpreendidos: Sempre que se pensa em Política cultural, de plano os nomes mais renomados são a tônica mais comum – inclusive se tornou um “capital simbólico que obtém um lucro de distinção” (BOURDIEU, online) para aqueles que já contam com os contatos e proximidades com os rols dos nomes mais festejados – utilizando isto para demandarem o que acham pertinente sem quase nenhuma troca com o projeto pretendido.   

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