“O costume é o melhor Prosac. Quando
tomamos muito desse tranquilizante, estamos facilitando o trabalho dos que
querem nos atar a uma Matrix.”. (WARAT, 2004, p. 11)
Vivemos a época da imagem e
do consumo. Aquela como signo, e este como motor que constrói os significados.
Somos a geração que consome e vende “sentidos” – Luiz Felipe Pondé chega a
nomear este fenômeno de “A Era do Marketing Existencial” (PONDÉ, 2017, p. 51). Em dias como os nossos os valores correm risco
de virar mera justificativa para caber no Edital, ou no prognóstico esperado
pelo Investidor/Patrocinador.
Os valores perderam seu pé
semântico essencial. Ter valor é ser parte de uma potência criativa e urge
voltarmos ao sentido primeiro: “É preciso reapropriar-se democrática e
semanticamente de palavras como “valor” e “riqueza”, cuja raiz, reich, remete a poder criador.”.(VIVERET,
2013, p. 60). Este poder de agir pode ser apropriado como criação poética – ou
se tornar uma fabricação produtivista anêmica.
Bem como o Prosac
supramencionado por meio de Luiz Alberto Warat, dia a dia tomamos algo que consiga
resultados para dar sentido à Matrix. Se perdermos a espontaneidade seremos
mais dóceis, posto que estaremos dopados, enxergando cada vez menos além do que
a realidade-obscena dita existir. Mas o vazio consumido pela permanência neste
caminho será emudecedor.
Por este motivo, e para fugir
de qualquer lista que produza uma “moldura mental” (HORKHEIMER, 2015, p. 112),
eu quero aqui propor um layout para
os meus valores: um design de signos – não de significados.
1.
Layout dos valores imanentes: a. “Homo
Prospectus” – Projetos culturais são
muito futuro – eu quero particípios: Eu queria mesmo era ser um tipo de
Homo Prospectus e não Homo sapiens.
Há estudos que indicam que somos menos “sapiens” do que imaginamos. Edgar Morin
já vinham afirmando isto quando encerrou-nos na sentença – “somos homos sapiens-demens”(MORIN, 2010); ou
seja, somos cinquenta por cento razão e cinquenta por cento desrazão. Há
estudos que comprovam que nossa característica essencial não é mesmo o saber,
mas o “pensar o futuro” (SELIGMAN; TIERNEY, 2017, online). A Política Cultural exige muito isto de nós – imaginar o
futuro. Queria redescobrir algum canto que o futuro tenha uma voz mais serena e
poética – seja signo de Futuro mesmo, não de fim. b. Os “Contos acima das Contas”: Karl Polanyi, abordando o impacto
do capitalismo na sociedade, aponta como a invasão que o capitalismo mercantil
causou na chamada: “Grande Transformação”(POLANYI, 2000) – o momento em que a
há a mercantilização do aparato social. Portanto, fugir do olhar mercantil.
Enxergar as pessoas, não apenas aquelas com comporão a produção cultural, mas
as pessoas que irão consumir (se é que se pode utilizar esta palavra para
arte/cultura). Não esquecer que Política Cultural é como “lâmina do arado” (COELHO,
2008, p. 18), um meio com o fim de resgatar a subjetividade – a poesia para a
prosa dos dias. Enfim, um promover um “Homo
Prospectus” que valorize mais os contos que as contas.
2.
Layout dos valores transcendentes: a.
Promover a Suspensão do tempo. Um cenário onde a hora perca o domínio, o
instante seja desejado – não há atividade melhor do que aquela que nos retira
do passo do Cronos. Ou seja, um mundo com menos reuniões longas que nada levam
adiante – a não ser um conglomerado de apresentações enfadonhas de si e quase
nada do outro; b. Afetividade - Pessoas
acima de títulos e cargos: Construir encontros, tudo que for possível para
quebrar o formato “reunião”; c. Técnicos
que permitam ser surpreendidos: Sempre que se pensa em Política cultural,
de plano os nomes mais renomados são a tônica mais comum – inclusive se tornou
um “capital simbólico que obtém um lucro de distinção” (BOURDIEU, online) para aqueles que já contam com
os contatos e proximidades com os rols dos nomes mais festejados – utilizando
isto para demandarem o que acham pertinente sem quase nenhuma troca com o
projeto pretendido.
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