“Não sabemos o que acontece e é justamente o que
acontece”(Ortega)
Sabia que tinha perdido sua agenda e nada mais que isso
Sabia que deveria ter passado tudo para um outro instrumento
de segurança, mas , nada mais que isso saberia
O apego às notas num papel frágil nunca lhe tinha falhado,
Mas o futuro é tudo que “não nos é”
Sim...
O “não ser”
Nietzsche chamaria isto de “vir a ser”, num sentido de ir
caminhando sem qualquer expectativa de certezas e convicções
A instância do planejamento é um “ir” que "não nos é"
Condições de não ser
O futuro, naquela agenda, parecia arrimar um discurso bem
certo: nada é certeza
Contudo, havia um conselho de Edgar Morin numa pequena nota
de rodapé:
“A conscientização do risco pode estimular as defesas; é
preciso apostar. [....] A aposta é a integração da incerteza na esperança.
[....]A incerteza estimula porque convoca a aposta e a estratégia. [....]
APOSTA E ESTRATÉGIA, E ADIANTE!”. (2012, p. 27).
Apostar no risco do não-ser: era a saída para novas portas
de entrada
Queria reconhecer na realidade levezas como em G.H.:
“Dá-me tua mão desconhecida, que a vida está doendo, e não
sei como falar – a realidade é delicada demais, só a realidade é delicada,
minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas.”(LISPECTOR, 2011, p.34).
Uma mão pra caminhar
Mas ela não é uma raiz imóvel
E se a raiz mentir?
Quanto de nós permanecerá?
Quanto de nós permanecerá?
A mão não é você
Fez parte do caminho
O problema é que geramos nela sentidos de raiz para nossa alma
A mão é uma página que pode ser virada e virar só pegada
Vale a pena a pegada
Tanto quanto os passos novos
Ler o chão é tarefa de escoteiros, índios, pessoas experimentadas em
travessias
Temos que aprender a rumar sem mar
Desfazer oceanos de apostas e esquecer estratégias – perder
medo dos riscos
Termino aqui – tendo perdido a agenda e conquistado outros
caminhos -
Com mais um braço dado, a fala de G.H.:
“E é inútil procurar encurtar caminho e querer começar já
sabendo que a voz diz pouco, já começando por ser pessoal.
Pois existe a trajetória,
e a trajetória não é apenas um modo de ir.
A trajetória somos nós mesmos.
Em matéria
de viver, nunca se pode chegar antes.”. (2011, P. 176).
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