Quase esperava para ver se alguém o socorreria, mas não
podia confiar uma vida ao destino...
A vida quer de nós mais que expectativa – quer expectação...
Ninguém parava para dobrar-se e ajudar
Dois pararam
Mas apenas para comentar
Todos temem a sujeira alheia
Corri em sua direção como se o conhecesse
Meio atordoado
Aquele era o dia do seu encontro
E ele desencontrado, perguntando como a vida pode ser tão inesperada
como num carrossel
Segundos... E ele alí ao chão
Logo ele que minutos antes estava em nuvens..
Preciso dizer:
Ele era epilético...
Acabara de ter uma grande crise
Tremia muito mais que qualquer mortal
Ele sentia um mal súbito no seu primeiro encontro tão esperado
Tão tímido que era
Escondeu-se por entre as malhas da internet
Penetrando o olhar de uma menina que enamorou por dois longos
anos
Até que, afrontado pelo sentir empolvorado,, marcou o dia de
encarar aquele olhar
Aquele dia foi então firmado com um mês de antecedência
Ele alegou trabalhos e viagens
Tudo irreal
O que o fazia temer e tremer era mesmo aquele seu segredo
Não se deve guardar segredos
Não para quem se pretende amar sem prazo
Não se deve fugir de meandros, ainda que sejam conflituosos
Um amor sem prazo pede mais que só uma parte, pede o todo
No dia anterior ele não dormiu...
Às portas de compromissos como esses ouvimos o barulho dos segundos como se fossem passos de
gigantes em nossas camadas de gelo...
De doer!
E não se dorme, nem se deixa dormir
Ligou para quem pôde
Escreveu e leu até forçar algum tipo de sono
Tudo em vão
Apenas tricotou piscadelas olhando para lua cheia em sua
janela
Breve sol despontou
Curioso: ele cegou!
Olhou tanto para aquele sol nascente
que esqueceu...
desafiando-o
Cegaria...
Cegaria...
Mas, para ele, valeu o olhar...
Ter um momento na vida que sufoque todo o resto
Ter um alguém que traga uma lembrança tão forte
Que a mais Hercúlea força não o mova...
Cego por um momento,
Dê algum nome aquele encanto:
o enamorar...
o enamorar...
Lembrou que o encontro tinha sido marcado para noite
E não fez isso porque a noite é mais romântica
O fez porque temia que tivesse uma crise a luz do dia
Seria menos doloroso se as sombras lhe recolhessem e diminuíssem
a imagem crua
Sem perceber
Lá estava...
Uma hora antes, no restaurante combinado
Mãos suando como nunca
Cada minuto olhava para o relógio quase parado – cheio de
surpresa
Alguém tomou-o de repente
Fechou seus olhos
Era ela...
Não sabia como responder aquela brincadeira
Eles não tinham proximidades
Apenas se comunicavam por redes sociais, sempre frias e
escamoetadas
Na vida tudo é cru
E só o que vale deve ser descoberto
Valeria?!
Ele ousou beijar a mão, o primeiro beijo tão sonhado...
Por horas conversaram
Por horas mesmo
Quase foram expulsos daquel recinto
Ele a convidou para sair
A deixaria em sua casa
Ela aceitou afirmando que já era tarde e trabalhava no outro
dia
Ele caminhava e ela não podia perceber
Ele estava a flutuar
Eram tantos quilômetros de conversa a serem postos em dia
Eram tantos momentos raros para colecionar
Ele queria andar com a maior lentidão possível
Atrasar o curso ao menos do caminhar
Já que o tempo é irrefreável
Ela chegou a sua casa
Momentos antes ele tinha sentido fortes dores de cabeça
Mas nada disse
Jamais iria querer compartilhar tão cedo sua dor
Ela fechou a porta
Distraiu
Ele, segundos após, ruiu sobre a calçada
Porta fechada
Ela nada ouviu
Eu só estou narrando isso a vocês porque, por coincidência,
Tinha ido comprar remédios..
Tinha sido, para mim, um dia terrível, daqueles!!!
Resmungando pela noite
Vi a cena
Um homem caído
Duas pessoas olhando para ele, fingindo não ver, fugindo...
Parei o carro
Esqueci minhas dores e mal estar – a rabujenta calou-se, enfim!
Aquela dor que sentimos pode não ter cura,
Mas o melhor remédio sempre será esse
Não fechar-se em seu mundo
Olhar adiante e diante de si...
Foi o que fiz...
Segurei seus braços e pernas sem ajuda alguma
Nessas horas de atropelo
Acredito eu
Deus, seus anjos, nos dão uma força que não temos
Ultrapassamos tantos obstáculos nessa vida
Não acredito terem sido apenas as minhas pernas à saltá-los
Impossível!!!
Aos poucos ele foi retornando
Os olhos deixaram aquele desencontro
Sua cabeça aquietando ao chão
Ele suando muito perguntou quem eu era
Eu lhe disse:
"Sou alguém que também tem epilepsia.
Não se preocupe, eu sei como se sente, fique tranqüilo..."
Perdoem-me.
Eu menti!
Não tenho e nunca tive epilepsia
Falei isso só para que ele descansasse
E funcionou!
Tendo dito isso ele confiou a mim toda a história aqui
narrada
Ele sossegou...
Ao final terminou sua história com um verso:
"Caí aos pés do meu sonho.
Rendido.
Relutante.
Sonhei.
O Vi.
O Vi.
Vivi.."
(Nesta hora sorrimos intensamente, esquecemos os nossos
mares...)
O sorriso é uma oração!
A mais bela, a mais intensa..
Ele traz e leva...
Deixa só o que nos transforma...
Ele esquecia que teria que contar, um dia, de sua epilepsia
Eu esquecia meu dia, minhas dores
Numa porta entre-aberta ou fechada
Deus sempre nos enviará alguém, ainda que seja um anjo
invisível para nos dizer
“Calma, eu entendo sua dor, eu também sou epilético...
Epiléticos Somos todos: hu(manos).
Basta identificar-se com a dor sentida por outro,
como se a tivesse...:
esse é o princípio da cura...”
esse é o princípio da cura...”
Desde aquele dia
Nos tornamos mais e mais amigos
Num dia de encontros ele tombou: beijou o chão
Num dia de dores eu saltei de mim: beijei a vida que tinha
ali
O chão e a vida, ambos, sagrados...
Nos encontramos sempre...
Com portas abertas
Ou não....
Apenas
pare!
Repare...além de ti...
Ileide Sampaio
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