
Talvez, o que aqui se conte seja uma história para receber alvíssaras,
e é por isso que vou contá-la: não para recebê-las, mas para divulgar que
ainda hoje há quem as mereça...
Todos os dias acordava bem cedo para tracejar meus primeiros passos do dia...
Costumava sempre pegar o mesmo caminho (a rotina nem sempre é enjoativa – faz-se, quase sempre, mais que necessária...)...
É engraçado ver os mesmo olhos, na mesma rua, fazendo exatas as mesmas tarefas dos dias anteriores..
Estava íntima daqueles momentos, poderia adivinhar algumas palavras que seriam ditas...
Até que percebi um novo “morador” em minha aldeia...
Ele trajava-se de silêncios e medos...
Suas dores exalavam de seus olhos feridos...
Não sabia dizer se ele era fruto dos padrastos tóxicos deste mundo moderno ou se a vida fora tão ruim com ele que o fizera vergar e desistir do sonho, da luta....
Certo é que aquela figura furtou o meu dia...
O tempo todo fazia comparações entre suas vestes e as minhas...
Seu “lar-sem-lar” e o meu...
Sua fome ardida e os meus pães sobre a mesa todo o dia...
Meu Deus....
A angústia me atravessava o olhar da alma...
Dormir em cama separada pela bem-aventurança de ter uma família,
agora parecia me incomodar...
Mas dobrei minhas questões e as pus debaixo dos meus olhos intranqüilos... até dormir...
Pela manhã acordei na expectativa de ver aquela curva curiosa em meu caminho e indo até ela desfiz-me de meus preconceitos e lancei um som para aquele inusitado morador descalço: “Bom dia senhor! Tudo bem...o senhor é novo por aqui?! Vamos lanchar comigo?!”...
Ele ficou tão surpreso que sorriu disfarçando os poucos dentes que o abandono lhe permitira ter e disse:
“Bom dia Sra.! Já estou feliz pelo simples fato de ter sido notado, isso foi melhor do que qualquer lanche...muito obrigada sra.!” (glup!)
Meu sorriso se desmantelou com aquela resposta...
“Mas por que?! Diga-me pelo menos teu nome?!vamos...”
Ele sorriu novamente: “Meu nome?! Não lembro mais! Há tantos anos fui entregue ao anonimato...o máximo que me diziam de bom era : Deus te abençoe rapaz!
Nuca perguntaram meu nome e eu simplesmente o esqueci....”
E por um instante silenciou aquele sorriso tão raro e vívido...
Eu lhe disse: “Se não lembras teu nome...será que eu poderia chamá-lo EMANUEL?!” ele sorriu novamente...
“Claro sra!”
Naquele momento o abracei sem duvidar e entre as lagrimas daquele rosto que colhi rasgaram-se verdades latentes em minha mente:
as sombras de nossas cabeças meneantes;
os vidros fechados de nossos carros soberbos;
as portas encadeadas da alma...
tudo isso...
nos tem feito menos humanos...
Após longo abraço e choro compartilhado repliquei:
“Não quer lanchar mesmo EAMANUEL?!”
“Não sra! Hoje é um dia único na minha vida!!!!! A um só tempo renasci – fui batizado não com uma palavra, Mas com teu abraço. Me sentia morto, as pessoas passavam por mim e pisavam em minha presença...Obrigada sra! Mas agora tenho que ir...continuarei minha andança e nunca mais me esquecerei desse nome...
EMANUEL!!!(Corria ele gritando a rua acima...)
Tchau sra!
EMANUEL!!!
EMANUEL!!! "
Ficamos... eu e minha mão...
cortando o céu do adeus...
entre lágrimas desprendidas,
só conseguia sussurrar:
Emanuel......
Emanuel....
Emanuel....
Em quantas ruas te vi e não tornei para ti, Emanuel?!
Emanuel...
Emanuel...
EmanuEL!
em Cristo,ileide sampaio-=]
Terminei em lagrimas este tão belo texto! Poucas escritas trás a alma essa sensação de ternura e dor pelo mundo ao nosso redor. As exclamações, demonstrando a alegria, a tristeza ou simplesmente um coração que fala de vida; enquanto reticências falam de uma "saudade", de um convite sem fim. Entre lagrimas termino essa leitura, lembrando de tantos lugares em que vi o Emanuel o descartei enquanto sentia a boa brisa vindo do prazer de andar em duas rodas.
ResponderExcluirHá um egoísmo que precisamos vencer e abraçar o Emanuel... Quero ser mais humano hoje, quero ver vida em outros olhos novamente!
Emanuel......