sábado, 16 de janeiro de 2010

Fé e Razão - conciliáveis, mesmo nas incertezas...




A antiga discussão entre os defensores da fé e razão, como se as mesmas fossem pólos opostos de mundos díspares, já padece de espaço. Não há como dissociar a razão da fé, já que a experiência espiritual é absorvida por um ser racional por excelência.

A história tem comprovado que a fé frouxa, desprendida de razão, que não se importa pela colocação inteligível que discurse sim o impossível, mas pela veia de muitos impossíveis que a própria experiência humana experimenta todos os dias, já não se sustenta sozinha...
O desafio da Igreja na Contemporaneidade é ensaiar a razão nos campos férteis da fé. A fé potencializa o homem, levando-o mais adiante das experiências meramente sensoriais. Portanto, mesmo nas incertezas, já que não teremos respostas para todos os motes de fé, nem para os racionalistas extremos..., elas andarão longa caminhada, mas de mãos dadas...

Vale aqui um pouco de Descartes para desanuviar qualquer impressão:


Mas o que leva tantos se persuadirem de que há dificuldade em conhecer a Deus e em conhecer também o que é a alma, é o fato de não elevarem nunca o espírito acima das coisas sensíveis, e estarem de tal forma acostumados a só considerar as coisas imaginando, o que é um modo de pensar particular, as coisas materiais, que tudo que não é imaginável lhes pareceininteligível . Isto é bastante manifesto pelo fato de os próprios filósofos terem por máxima, nas escolas, que no entendimento nada existe que não tenha estado antes nos sentidos, nos quais, entretanto, é certo que asidéias de Deus e da alma nunca estiveram. Parece-me que os que querem usar a imaginação para compreendê-las procedem exatamente como se, para ouvir os sons ou sentir o odor, quisesse servisse dos olhos; sem falar da diferença que consiste no fato de o sentido da vista não nos garantir menos a verdade dos objetos do que os do olfato ou do ouvido, ao passo que nem a nossa imaginação nem os nossos sentidos poderiam jamais assegurar-nos de qualquer coisa, se o nosso entendimento não interviesse.

Em resumo, se ainda há homens que, depois das razões por mim apresentadas, não estão persuadidos da existência de Deus e da alma, quero que saibam que menos certas são as coisas das quais talvez se julgue mais seguro, como o ato de possuírem um corpo, ou de existirem os astros, a terra e coisas semelhantes. [....] Que os melhores espíritos estudem quanto quiserem; não do universo creio que possam apresentar uma razão suficiente para dissipar essa dúvida, sem pressuporem a existência de Deus.
(DESCARTES, René. Discurso do método: regras para a direção do Espírito. São Paulo: Martin Claret, 2005. p. 44,45). Grifo Nosso.




é isso...
as aporias servem para isso: fustigar as áreas comuns....
dá-lhes chicotes!

Um comentário:

  1. Ileide:
    Vim aqui retribuir sua visita ao Duelos Literários e me deparei com seus escritos. São muito bons!
    Por isso, gostaria de convidar você a participar do Duelos, deixando textos seus nos comentários ou enviando para meu email (shintoni@terra.com.br), para que sejam postados lá e os amigos do Duelos possam usufruir de sua criatividade e originalidade.
    Se gostar da proposta, participe!
    Um abraço e parabéns pelo seu blog!

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