Sentada em sua sala de estar
caíam seus braços sobre um ombro cansado -
era o sinal de que queria um outro estado, outro recanto, outro canto -
e nada lhe era outro -
tudo que tinha era ela mesma e seus ombros -
cansados ombros...
caíam seus braços sobre um ombro cansado -
era o sinal de que queria um outro estado, outro recanto, outro canto -
e nada lhe era outro -
tudo que tinha era ela mesma e seus ombros -
cansados ombros...
Começou a ler a obra mais recente de Milan Kundera: "A Festa da insignificância"...
Era uma pressa tamanha
Já lera outras obras do mesmo autor e, em cada
linha, percorria tentando angariar AQUELA frase que a envolveria como um REFRÃO
de uma melodia que estava muito além da vida
Mas, naquela nova obra, novo livro, a pressa seria
sua maior inimiga
Seu marca texto começou a ser silenciado - a FRASE
não surgia
Diálogos eram lidos de forma apressada - os nomes
começavam a escapar pelos dedos
Onde estava, MILAN KUNDERA, onde estava O REFRÃO
que arrimaria sua alma?
Eu comecei a ver uma proximidade quase RELIGIOSA
naquela leitura:
Querer OUVIR E VER rapidamente,
clamando com anseio,
sem aceitar que NADA AINDA VEIO
Acendendo velas e arremedos
E a PALAVRA, o Deus que mais fala, teimosamente, não vinha
Querer OUVIR E VER rapidamente,
clamando com anseio,
sem aceitar que NADA AINDA VEIO
Acendendo velas e arremedos
E a PALAVRA, o Deus que mais fala, teimosamente, não vinha
Pedi aquele livro emprestado de suas mãos
Folheei e propus que eu leria para ela todas as
noites - caso assim concordasse
Ele negou de pronto!
Disse que, naquela mesma noite, abarcaria tudo...
Dias após, ligou para mim
Meu pedido era, enfim, aceito
E eu, que nunca tinha lido nada do KUNDERA, leria
em voz alta e calma - para abrir os olhos daquela que tinha tanta sede de VER NA PALAVRA UMA REVELAÇÃO para alma
Já no começo ela pedia que repetisse o enredo
inicial, anotou os primeiros nomes: Alain, Ramon, Charles, D'ardelo e Calibã...
Ela entrou em êxtase quando ouviu: "No meu
vocabulário de ateu, uma única palavra é sagrada: A AMIZADE" p.30
Pediu que marcasse com seu marca texto e ficou se
martelando: "Como não percebi que A PALAVRA estava aqui?! Como não a
vi?!"
Enquanto ouvia seu martírio sobre a perda, só
pensava em como aquele momento mudaria minhas leituras, começava a aderir à uma
literatura mais refinada - que encontro é a vida!
Ela teve que perder - para que eu achasse..
Ainda maturava a ideia de um ateu chamar SAGRADO - UMA AMIZADE SAGRADA - um altar sem ídolos - uma igreja sem deus?
Era sobre isto que meus anseios lidavam -
Não a perda de minha capacidade de ler BEM - se é que colher FRASES é uma leitura boa...
Não a perda de minha capacidade de ler BEM - se é que colher FRASES é uma leitura boa...
Enfim...
Combinamos, todo dia, dois capítulos - porque era livro
pequeno e de capítulos também pequenos..
Nos dias que nada encontrava no texto - eu tinha
que reler, várias e várias vezes
PARECIA que ela queria uma LEITURA ÚTIL do ponto de
vista da COLHEITA DE FRASES e refrões...
Pensando na AGONIA dela, lembrei do narciso D'ardelo,
personagem da obra, que sobre ele Ramon dissera:
"Não entendeu NADA, e ainda hoje não entende NADA DO VALOR DA INSIGNIFICÂNCIA"P.23
"Não entendeu NADA, e ainda hoje não entende NADA DO VALOR DA INSIGNIFICÂNCIA"P.23
Eu sei que esta página veio de antes, mas ela não a
percebeu e eu também não queria injetar mais terror por mais uma perda de
REFRÕES
Havia, naquela obra, discussões sobre Stálin e seu
ar esnobe e viral de soberba - fora chamado de: "marionete"...
MARIONETES seriam aqueles que viveram, lançaram
nome na história (de forma positiva ou não) e, depois, teriam suas vidas e
falas recontadas por outras pessoas - virariam MARIONETES dos homens do
futuro... Historiadores ou não...
Alain queria recontar um fase da história mediante
uma peça. Tinha em mente Stálin e o rebatizo da cidade da PRÚSSIA: Könisgsberg
(onde nasceu o grande KANT), que , após a segunda guerra, chamou-se
KALININGRADO. Em homenagem a KALININ, militante de Stálin naquela cidade, e que
tinha problemas de incontinência urinária - em consequência de sua próstata.
Enquanto eu vou querendo ver o enlace da história -
ela, e seu MARCA TEXTO, ainda não tinha colhido mais que duas citações - e me
fazia repetir quantas vezes quisesse...
Se isso me agoniava? Não! Simplesmente aprendia com aquele passo apressado - lendo e relendo - a ouvia melhor...
Se isso me agoniava? Não! Simplesmente aprendia com aquele passo apressado - lendo e relendo - a ouvia melhor...
Na obra, Alain defendia que a compaixão era possível, mesmo
no coração de Stálin. Ver seu companheiro com aquela doença o fazia
enternecer ao ponto de batizar uma cidade com seu nome.
Isso fazia seus colegas rirem de Alain.
Haveria coração ainda num homem que há anos bebe
sangue e alma de outros?
Essa era sua defesa: "É preciso que o
rebatismo se apoie num nome famoso através de todo o planeta e cujo brilho faça
calar os inimigos! [....] Como entender então que Stálin escolha o nome de
alguém tão nulo? [....] ela pensa com ternura no homem...". p. 39.
Devo dar uma pausa aqui para admitir: EU COMPREI O
LIVRO E COMECEI A LÊ-LO EM MINHA CASA - COMPREI ATÉ MARCA TEXTO e me vi
buscando, como num alinhavo, sentido em cada uma daquelas FALAS, mas para mim
não era uma busca por refrões de sentido - era apenas para tessitura de
entendimento daquela linguagem...
Mas eu JAMAIS diria isto - senão não
aceitaria que eu continuasse lendo para ela...
Voltando à história da obra…
Alain chega a convencer seus amigos: mais vale um
INSIGNIFICANTE que sofre dos mesmos sofrimentos de qualquer simples ser humano,
que os grandes heróis que poucos homens podem experimentar histórias como as
suas – --------- _
Ver a história de KALININ era se reconciliar com O ABSOLUTO desapego dos significados heroicos e
alinhar-se com uma vida com significado mais MODESTO – por ser
REAL.
Ver a história de KALININ era se reconciliar com O ABSOLUTO desapego dos significados heroicos e
alinhar-se com uma vida com significado mais MODESTO – por ser
REAL.
Assim consentiu Ramon: “Você tem toda razão, Alain.
Depois de minha morte, eu quero me levantar a cada dez anos para verificar se
KALININGRADO continua sendo KALININGRADO. Se for esse o caso, poderei sentir um
pouco de solidariedade com a humanidade e, reconciliado com ela, voltar para minha
sepultura.”. p. 40, 41.
O batismo da insignificância ainda salvará a
humanidade de TANTA PRETENSÃO E SOBERBA...
Muitos querem ser heróis para vidas alheias à sua: e KALININ queria apenas não urinar na frente dos outros...
Seu ato era simples, contidiano, sem significado heróico: digno de romper a dureza até de um ditador...
O que quebra a alma humana não são grandes homens e milagres inexplicáveis
O que verga a alma humana e GERA HUMANIDADE são atos SIMPLES - despretenciosos - insignificantemente BELOS.
Muitos querem ser heróis para vidas alheias à sua: e KALININ queria apenas não urinar na frente dos outros...
Seu ato era simples, contidiano, sem significado heróico: digno de romper a dureza até de um ditador...
O que quebra a alma humana não são grandes homens e milagres inexplicáveis
O que verga a alma humana e GERA HUMANIDADE são atos SIMPLES - despretenciosos - insignificantemente BELOS.
Eu ainda continuarei lendo livros – e continuarei
lendo livros para pessoas – isso não significa nada para ninguém – por este
mesmo motivo: SIGNIFICA TANTO PARA MIM:
LER E ESCREVER...
LER E ESCREVER...
AQUI...
ou na areia....
Até breve....
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.