"A poesia é uma expressão do não-ser do poeta. O que escrevo não é o que tenho; é o que me falta. Escrevo porque tenho sede e não tenho água. Sou pote. A poesia é água. O pote é um pedaço de não-ser cercado de argila por todos os lados, menos um. O pote é útil porque ele é um vazio que se pode carregar. Nesse vazio que não mata a sede de ninguém pode-se colher, na fonte, a água que mata a sede. Poeta é pote. Poesia é água. ". (ALVES, 2014. p.112).
domingo, 6 de janeiro de 2013
Aquela gota de tinta....
Nem
Perceberam,
Mas naquela gota de tinta
Nao havia só suor,
Havia gotas de outro esforço da alma...
Queria encontrar aquela menina.
Meio escondida.
Cheia de blusões, óculos e sorrisos de canto de boca.
Mas ela ,
Sempre que eu sorria,
Baixava o rosto...
Ela deixou uma carta no circo...
Alguém me repassou...
Eu aho que ela deve ser tímida
Nao sei,
Apenas acho.
Ou será que ela sente é vergonha de mim?!
Ou será que ela acha patética a minha participação circense?!
O problema de sempre viver pelas venezianas
É que nem temos todo sol lá de fora,
Nem toda sombra de dentro.
Nem dormimos ,
nem despertamos.
Somos apenas olhos - de observadores olhares...
E eu era assim.
Sofria do mal,
Do medo.
Nao sei definir.
Se fosse para definir chamaria:
"Tem alguém me vendo"
Hoje , pra quem me vê de palhaço,
Jamais imaginaria que aquele "gaiato" sou eu!
Pareço um outro
Né?!
Nao sabem!
Comecei a pintar o rosto para escondê-lo mesmo.
Comecei a fazer rir para me esquecer...
Como "me esquecer"?!
Poderia dizer das vezes, tantas, que fugi de mim, mas nao poderia dizer COMO!
Simplesmente,
Nao entendo..
Até hoje,
Quando sento
E olho para o espelho,
Nem ouso entrar nessas questões.
Sempre lanço-as debaixo de um tapete imaginário chamado:
deixa quieto!
O que quis esconder naquela primeira tinta de palhaço?!
Um defeito facial..
Rima até com flor,
mas tem dores de espinhos...
Eis o nome da minha face descolorida:
Rosácea!
Pois é!
Mas ela nao definiu meu nome,
Nem minha vida.
Apenas me levou a um lugar jamais pensado:
O Ser palhaço!
Por que palhaço?!
Ouvi piadinha como a que você relatou no texto, mas, o que fiz?!
Dei ao mundo mudo e cru uma nova forma de ver:
palhacear zombadores é trapacear com as palavras.
Fingir terem sido bebidas e depois apenas abandoná-las no véu do tempo...
Fingir ser superior seria mentir, mascarar a dor é superar.
Não superei a rosácea. Meu rosto ainda é embotado de suas vermelhidões..
Superei apenas as janelas que me impunham...
Saí do canto "meia-luz-meia-noite"....
Escorreguei várias vezes,
Fui e fiz piada,
Aprendi a ser palhaço e não sentir a dor que as palavras injetam..
Lembro que se alguém antes me chamasse: "Cara vermelha, palhaço de circo!", meu Deus, roubaria toda a vida do dia...
Mas eu venci!
Tornando o ser palhaço a maior piada...
Tornando o ser Rosácea a textura da minha maior graça..
Pintei com várias cores o cinza que me impunham..
Hoje sorrio mais que lamento...
Porque fiz da fala dura alheia uma simples proposta para apenas sorrir...
Queria só te dar esta carta..
Ela tem mais do que tinta
Ela,
Como o meu rosto colorido,
Tem as rosáceas da minha vida...
Ileide Sampaio.
(Este texto é fruto de uma resposta a uma amiga... Numa carta desabafo ela escreveu como se sentia e, no mesmo instante, me veio este texto como resposta... A poesia também salva...).
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