sábado, 20 de outubro de 2012

Revirando a epistemologia do meu cristianismo...


Esses dias devorei um livro..
Um dia e meio, para ser mais exata...
Seu título?!: 
“Pra começo de conversa”...



Desde o título já absorvia a intenção de ser cada vez mais desapegado às rules concatenadas dos teólogos tradicionais. 

Informalidade e sensibilidade parecem andar juntas.

O livro traz os relatos de dores: as Dores da Índia; de crianças terrivelmente estupradas; de pessoas com necessidades especiais; dos excluídos e renegados sociais – dos incuráveis e ditos faltosos de fé... Porque há teologia que não se contenta em criar chavões como: "Se você não foi curado é porque não teve fé!".
Chegaram a fabricar um deus que impõe doenças e formula receitas de curas que só tem acesso alguns - multidões de milhares gemem no mundo e essa receita não dá conta... 

Mas vamos voltar ao belo livro...

Da falta de sono no chão da Índia, até as aulas que teve que ministrar sob olhares inquisitores.
Disto tudo bebi cada letra com um único fôlego.

Identificação.

Talvez tenha sido este o maior motivo, sem contar, claro, com as belas citações e uma escrita que conversa com os nossos olhos, tremulando a nossa alma.

Pensei sobre o Amor de Deus, sua onipotência em amar.

Revirei a epistemologia do meu cristianismo: inventarei a maneira mais tranquila de observar. Porque tudo que se produziu como lei, ou como interpretação sistemática da lei, só gerou pó! E levou muitos homens ao pó, menos a Deus...

A poeira que agora enterra os intérpretes fiéis de suas razões perde-se nos labirintos da vida.

Só recusa as dúvidas existenciais quem se fecha em sua paróquia. Eu me recuso!

Por isso o olhar que o autor lançou sobre a Teologia “sistematizada”, quase um manual para passar em Concurso Público que, como professora, sempre reprovei (quem foi meu aluno bem sabe), mas como professora por vários anos de escola bíblica e etc sempre fui motivada a utilizar, para tornar mais acessível O Infinito. Mas havia um problema: Sempre recusei respostas prontas...

Pensar Deus por esquemas de interpretação a qualquer custo, inclusive justificando massacres com o jargão: "Deus está no controle"... É um tiro no pé! Pregar um Deus soberano é anunciar um Deus soberanamente amoroso - porque Ele não está em pé de guerra, não precisa contrapor-se a nada e ninguém, ELE É! Não é um poder imparcial absoluto determinista que o faz mergulhar numa história tão limitada como a humana... É muito mais, a vida, do que um labirinto de via única...

Os esquemas categóricos do Destino (ou também chamado pelo Calvinismo de Pré-destinação) fraquejam diante dos absurdos e injustiças da vida.

E só não percebem isto os que fogem da própria vida, inclusive, dos textos bíblicos. Porque mesmo os literalistas, ao lerem textos como os que vou citar, fogem para outros critérios tentando salvar sua "reta doutrina"...

Eis os espinhosos textos:
Então arrependeu-se o SENHOR de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. Gênesis 6:6
E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez. Jonas 3:10
Então o SENHOR se arrependeu disso. Não acontecerá, disse o SENHOR. Amós 7:3
Estendendo, pois, o anjo a sua mão sobre Jerusalém, para a destruir, o SENHOR se arrependeu daquele mal; e disse ao anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, agora retira a tua mão. E o anjo do SENHOR estava junto à eira de Araúna, o jebuseu. II Sm24:16.


Olhando pelas lentes dos nascidos em castas:
Onde ficou o deus que PERMITIU/DESTINOU/DETERMINOU um nascido na casta Pária na Índia?!
O que digo a mãe que teve a filha de um ano e três meses violentada terrivelmente pelo próprio familiar chamado erroneamente de “pai”?!
O Deus avaliado pela simples veia do PODER: Onipotente! Acima de tudo! Não o descreve... 

Ele é poder! Sim, mas poder de quÊ?!
Qual a substância deste poder?!

O livro nos traz o Deus que ama, como relatado por João ( IJoão 4)  – seu PODER (Na tríade ONIPOTÊNCIA, ONIPRESENÇA, ONISCIÊNCIA) é O PODER DO AMOR.

Toda linha escrita na existência da humanidade que fira esse tear foi rabiscada pelo homem. 
Homem este que não é um objeto de pena, ou uma peça de xadrez para divertir Deus ou para fazê-lo mais do que já seja.
Homem este que é a parcela mais mostrável da grandeza deste amor: o Absoluto tende a criar.
Ao criar geme com a criação.
Rende-se a uma Cruz.
Dilacera-se.

Onipotência em Cristo é essa feição: darei aos homens a escolha, custe-me o que custar, percorrei com eles o caminho - "Eu sou O Caminho..."(Jo14:6), só João, o apóstolo do Amor lembrou de citar este texto.

Caminho - limite 
Passos - construção
História - Parceria
EU SOU CAMINHO - Jesus

Ele está envolvido em cada passo!
Ele experimenta não do fim apenas, mas do PROCESSO...ou aqui chamado "Caminho"
Ele sente cada passo que enfrentamos...


Não sei bem qual sua concepção de Deus.
Mas recomendo a leitura do livro que acabo de descrever.
Precisamos nos despir dos obscurantismos.
Precisamos nos aquietar na graça de um Deus que excede entendimentos – e diante disto dobrem-se diante Dele as teologias pré-fabricadas!

O “teopoeta”, Pr Ricardo Gondim, nos convida neste livro a pensar. Abandonar os novelos rígidos. Valorizar mais os processos de descobrimento e assombro que do aquietamento.
Por isso tudo, deixo aqui, em meu simples blog, esse breve manifesto. E termino com uma citação do belo livro:
   "Liberdade e amor se conectam. Não é possível haver liberdade e coerção ao mesmo tempo. Não se pode afirmar que Ele [Deus] estabeleceu, sujeitou o homem ao relacionamento de amor. Ninguém conquista afetos por coerção. O ser amado precisa ser livre para mudar, rejeitar e até sumir. [....] por sinal, quanto maior o amor, maior a possibilidade de dor. Quem ama com amor infinito corre o risco de sofrer uma dor infinita [....] amar é oferecer-se desprotegido à dor.".(Gondim, 2012, p.138)

"Deus mudou?! Não! A teologia sim!"(Ibid., p.95).

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