
Das muitas caminhadas que já tinha visto, aquela parecia a mais longa...
O sol gritava forte e o seu amarelão esperneava em toda sua pele, mas ele ainda estava no MEIO DO CAMINHO...
Calma! Você não deve estar entendendo nada, mas também, é que eu comecei a história do MEIO DO CAMINHO, deixe-me voltar um pouco e tentarei escovar os espinhos que possam querer surgir nesse início...
Estou contando a história de um senhor que, desde cedo, prometera a si: “Ao aposentar-me dos labores desta terra eu passarei um ano me preparando para a MARATONA anual que acontece nessa cidade e EU CHEGAREI ATÉ o FIM dela...”
Para quem está ainda no começo de suas empreitadas e pensa que aquele dia sonhado não chega, perceba: ELE CHEGARÁ e chegou!
Como prometido, aquele senhor ousado calçou a sua alma...Procurou um MÉDICO especialista que fez todo acompanhamento médico-nutricional e físico necessário...e lá se foi RAPIDAMENTE aquele ano em que seu PLANO estava sendo CALÇADO para a batalha...
Dia então raiou...Lá foi o senhor aposentado...e inscreveu-se na MARATONA ANUAL...era uma manhã de inverno, este clima não era esperado por seus organizadores, mas o tempo é senhor de si – não há como detê-lo...
Devido ao aumento do inverno o evento teve que ter o seu local de término deslocado para fora da cidade...e foi de lá – da notícia DE UM FIM NÃO ESPERADO, de um CLIMA CONTROVERSO que o senhor iniciou sua empreitada...
E...foi dada a largada...
Todos corriam alvissareiramente, gritando, ofegantes de andar apenas alguns metros e fazer algum barulho...
Aquele senhor, quase hígido, continha sua visão no metro seguinte, na curva próxima, naquele quilômetro ainda não vencido...
Enquanto o silêncio do céu ventilava seu sonho, as pessoas se atordoavam com os gritos que ouviam de fora...
Longas horas e muitos ficavam ao chão com suas vontades....
A sede palpitava a alma de alguns e pediam águas para a torcida e água era dada...(só que não percebiam que ao pegarem a água também paravam o curso de sua rota...)
Mas aquele senhor não, ele havia se preparado bem, estava com a quantidade de água calculada, sabia qual a metragem em que havia de tomá-la...
E...seguia!, já os outros corredores iam ficando não mais atrás dele, mas FORA DA ESTRADA...
Enquanto os que antes corriam na sua frente só tinham ouvidos para torcida o senhor SEGUIA MILIMETRICAMENTE OS CONSELHOS do SEU PREPARADOR físico...e
Entre relógios, pulsos e gotas de suor, ele intercalava os CONSELHOS e os ALERTAS do seu MESTRE...e seguia...!
Eu olhava, curiosa, a cena; eu, sinceramente, não apostava que aquele senhor caminharia tanto, eu parecia confusa com a forma que aquele dia ia se desenhando sobre meus olhos...
Era incrível...vê-lo sereno, mesmo suando e desacreditado...ele parecia não ouvir nada que falavam, NÃO OUVIA A MULTIDÃO, não ouvia os locutores... simplesmente...seguia!!!
Já chegava a metade da corrida e o CLIMA FOI MUDANDO, o SOL, reacendendo seu brilho, nesse momento o corpo já não queria o calor – mas ele foi dado...
E naquele CLIMA ADVERSO e dado de surpresa aos participantes - os semblantes começaram a desfalecer: o cansaço misturado a ansiedade DE CHEGAR LOGO faziam os afobados JOGAREM A TOALHA...e o pior...o final da corrida se aproximava e O CAMINHO ERA OUTRO – fora da cidade...
Longe da cidade.. alguns corredores perdiam-se por não verem mais os gritos de incentivos, as águas já não eram tão frequentes em suas entregas...pois é, os vanguardistas acostumaram-se mal, muito mal...e o senhor em seu silêncio e concentração profundos nem notou a diferença...
Lá estava ele, eu seguia calada aquela cena incrível, o sol pinicava a pele do senhor e ele nada dizia, notava as vezes que os pés reclamavam de dores e ele apenas respirava mais e mais controladamente...
Que dia aquele...o dia em que os olhos são envergonhados – quando a aparência engana – esse dia é ÚNICO!
Na última curva amontoou-se um monte de jornalistas e pessoas querendo tomar a imagem do VENCEDOR, o senhor, no mesmo passo seguia, foram caindo da jornada os únicos dois participantes e o senhor tomou a ponta -
A fita estava lá e ele serenamente ultrapassou pelo lado de fora da fita e foi adiante...
PAROU TUDO! MAS COMO ALGUÉM, APÓS TANTO ESFORÇO, NÃO FAZ O MÍNIMO QUE É CORTAR A FITA FINAL?!
O senhor, exausto, parou bem mais a frente e concedeu a tão sonhada resposta para aqueles olhinhos curiosos (dentre os quais os meus)...ele respondeu:
“Cortar a fita?! E isso faz alguma diferença?! NÃO CORRI PARA VOCÊS!
A META ESTAVA FINCADA ENTRE MEUS OLHOS E OS DE MEU MESTRE. NÓS FIRMAMOS UM PLANO, ELE ME TREINOU E EU CHEGUEI ALÉM DO QUE EU IMAGINAVA.
PORQUE NÃO OUVI A MULTIDÃO, NÃO OUVI OS LOCUTORES E JORNALISTAS, NÃO ME INQUIETEI COM O TEMPO LOUCO, COM AS DORES INTENSAS....
EU SABIA PARA ONDE ESTAVA INDO E COM QUEM!! A FITA?! FIQUEM COM ELA...PARA QUE NÃO MAIS ESQUEÇAM DESTE DIA....”
E seguiu como um pássaro...
livre...e atordoante...
não são os pés longos, mas uma mente treinada;
não são os olhos apressados, mas a respiração serena – confiante e FIRME!;
Não é o que aprendeu, mas o que está disposto a reaprender e reajustar;
Não é o quanto somos fortes, mas o quanto nos preparamos e COM QUEM!
vÊ?!
O problema não é o caminho – mas A TUA CAMINHADA...
Em Cristo Jesus,
Ileide Sampaio-=]